quinta-feira, 2 de julho de 2009

Notícia: "Morar em república é uma boa maneira de fazer amizades."

RAFAEL SAMPAIO
LUISA ALCANTARA E SILVA
da Folha de S.Paulo


Além da independência com relação à família, morar em república (casa ou apartamento alugado com colegas) é a opção que permite fazer mais amigos, afirmam os estudantes que mudaram de cidade para estudar.

"Começamos com oito pessoas dividindo a casa, na entrada da Unicamp. Hoje somos em 13, mas até o início das aulas vamos ter mais dois calouros morando aqui", afirma Rafael Rodrigues Dias, 24, formado em engenharia da computação na Unicamp. Ele é um dos habitantes da república batizada pelos meninos de G8, famosa em Campinas (93 km de SP).

A vida na casa, que tem seis quartos e cinco banheiros, é movimentada -sempre há visita de amigos, intercambistas, familiares e antigos moradores. "Só no nosso quarteirão tem outras seis repúblicas, e todo mundo se conhece", diz Luis Fernando Barbato, 23, outro morador da G8.

Marcus França, 19, aluno de administração da PUC-Campinas e também morador da república, ressalta que sempre há festa na casa. "Quando é época de Copa do Mundo, pintamos tudo e recebemos até 400 pessoas para assistir aos jogos."

A convivência com os amigos, entretanto, nem sempre é harmoniosa, ressalta o psicoterapeuta Leo Fraiman. "Pode parecer bobo, mas lavar a louça e dividir contas de vez em quando dá briga." Segundo ele, o importante é não se anular nem agredir, mas agir com justiça e bom humor.

A receita da boa convivência dá certo na república de Carol Alonso, Stephanie Cima e Morena Brazil, todas com 20 anos e alunas do terceiro ano de fisioterapia da USP de Ribeirão Preto (a 313 km da capital). "Nós nos policiamos para pagar as contas em dia e raramente brigamos. Temos muita abertura para conversar", diz Carol, que conheceu Stephanie no cursinho.

"Eu conheci as meninas no primeiro ano de USP, e foi daí que nasceu a nossa república", diz Morena. As três são de São Paulo e viajam juntas para a capital nas férias e feriados para visitar os pais. "Na semana que vem, vai acontecer a recepção aos calouros, então todos os veteranos estão voltando para Ribeirão Preto. Voltamos também, não vamos perder as festas", afirma Carol.

Além das festas para receber os calouros, a cidade de Ribeirão para por algumas horas no início do ano para o "trio elétrico solidário", organizado pelo centro acadêmico do curso de economia da USP de lá --a ação arrecada alimentos e roupas para pessoas carentes.

Outro evento que mobiliza a cidade é a "festa dos bixos", que atrai cerca de 5.000 jovens.

É com o dinheiro recebido do estágio e os R$ 300 dados pelo pai que a estudante Mônica Custódio, 21, aluna do terceiro ano de economia da Unesp de Araraquara (a 273 km da capital), consegue ir às festas organizadas pelos alunos. "Tenho um monte de conta para pagar, então, economizo bastante, mas tento não deixar de me divertir", diz ela, que, junto com as cinco amigas que dividem a mesma república, costuma chamar outros amigos para festas e churrascos na casa.

"A gente faz o que pode com o dinheiro que temos. E acho que amadurecemos por ter essa responsabilidade", diz.

Recepção

A população das cidades universitárias tende a receber bem os estudantes de fora. "Do ponto de vista econômico, recebê-los é bem positivo", diz Maria Stella Coutinho de Alcantara Gil, ex-reitora e atual professora de psicologia da UFSCar. Além de movimentar São Carlos (a 232 km da capital) economicamente, a escola traz um clima de discussão acadêmica. "As pessoas falam das nossas pesquisas."

A UFSCar também se faz presente com a sua programação, que inclui o Show de Calouros --os ingressantes se apresentam em uma praça. "A universidade propicia uma troca entre alunos e população."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u501539.shtml

====== COMENTÁRIO =====

A transição da juventude para a idade adulta é uma época bastante complexa da existência humana, onde a irreverência natural desta fase entra em choque com as crescentes necessidades de responsabilidade e maturidade. Os jovens reclamam liberdade mas ficam renitentes em assumir maiores responsabilidades. Querem fazer valer os seus direitos de maioridade mas recusam os deveres e as obrigações que essa posição requer.

Muitos pais ajudam a criar esta contradição, já que desde a mais tenra idade se comportaram sistematicamente como donos dos filhos, escolhendo por eles e não confiando nas suas capacidades de criar e decidir. Este modo de proceder é bastante nocivo, porque as crianças crescem com a impressão que são frágeis e sentem-se vulneráveis quando confrontados com algo desconhecido. Tornar-se-ão adultos inseguros, com falta de confiança nas capacidades próprias, temerosos do futuro e extremamente dependentes. Educar não é escolher pelos filhos mas apenas proporcionar-lhes os elementos que eles precisam para se integrarem no meio que os espera, serem autónomos para experimentar por si mesmo os desafios que os aguardam, conhecerem os valores estabelecidos para que eles os possam aceitar, rejeitar ou até criar novos valores quando tiverem capacidade para tal.

A vivência em repúblicas é uma óptima forma dos jovens trabalharem a sua responsabilidade, cultivando a sua independência, aprendendo a lidar com os conflitos inevitáveis, a gerir o dinheiro disponível, a conviver com as diferenças e as divergências que uma comunidade dispõe e a terem preocupações básicas pela própria subsistência. É uma oportunidade excelente para que se habituem a fazer as suas escolhas, a saber o que é a dificuldade de uma decisão, sentir que é preciso sempre abdicar de algo para conseguirem alguma coisa que desejem. Se bem aproveitada, é uma experiência extremamente enriquecedora do ponto de vista humano e social, já que assumir a responsabilidade pela própria vida, é um passo importantíssimo rumo à maturidade e ao crescimento interior.

Algumas pessoas poderão discordar desta afirmativa, argumentando que os jovens ficam mais vulneráveis a influências negativas destabilizadoras e a perigos como a droga e doenças sexualmente transmissíveis. Não podemos esquecer que este tipo de perigos encontram-se em todo o lado e não é por estarem sob vigilância paternal que estarão a salvo destas influências negativas. O melhor meio para proteger os jovens dos perigos da sociedade actual não é a super protecção ou a repressão mas sim a educação e a confiança. A educação começa quando a criança nasce e não mais pára. A confiança cimenta-se gradualmente e exige reciprocidade para que seja efectiva. Uma história sempre inspiradora é a da águia que constrói os seus enormes ninhos no topo das mais altas montanhas. É aí nos picos mais agrestes que alimenta os seus filhotes e os ajuda a crescer. Quando as pequenas águias já se encontrarem preparadas, a mãe leva-os para os limites do ninho e empurra-os um a um para o abismo para que possam conhecer as suas potencialidades de voo. Existem perigos? Claro que existem. O seu coração de mãe deve bater de ansiedade e preocupação mas ela trabalhou durante meses no crescimento dos seus filhotes e confia plenamente em cada um deles, libertando-os para uma vida plena onde poderão voar pelos céus e dar seguimento à sua vida. Da mesma forma, os pais não precisam empurrar os filhos para fora de casa, mas sim estimulá-los a usufruírem da sua liberdade com responsabilidade, mostrando uma confiança ilimitada nas capacidades, escolhas e decisões dos filhos e fazendo-os perceber, mais com atitudes do que com palavras, que por mais asneiras que eles façam na vida, mesmo que discordando das suas atitudes, os pais irão ao lugar mais remoto que este planeta tenha, para os apoiarem, confortarem e compartilharem as suas dores, jamais os abandonando à sua sorte.

(Carlos Miguel Pereira é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net)

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