quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Beleza é mesmo fundamental?

 por Malu

“O essencial é invisível aos olhos.” Estas palavras de Saint-Exupéry, mesmo agora, pouco mais de cinquenta anos após o período em que foram escritas, revelam uma perspectiva tão à frente do momento em que vivemos, que eu não consigo imaginar o quanto estar aqui seria imensamente mais fácil, menos doloroso, se já fosse ela a ideia que norteasse o pensamento da sociedade como um todo. Mas, a realidade me diz que ainda não é, e a última semana no facebook mostrou isso quando começaram a rolar as postagens do tal "desafio sem make": meninas (sim, meninas!) e mulheres postando suas fotos sem maquiagem, enquanto comentavam sobre a dificuldade de fazerem isso.

Bom, considerando a beleza do ponto de vista estético e relacionando-a com a nossa aparência física, com nosso modo de vestir e nos apresentar, se falar – aqui – que não a vejo como importante, estarei, antes de tudo, mentindo para mim mesma. Claro que ser linda e ter um corpo tipo “Sandy” já foi um dos meus desejos mais insanos em diferentes e vários momentos. Isso, principalmente, quando me vinha à memória os problemas que tive de enfrentar no colégio por conta do que, hoje, chamam de bullying. Ou, ainda, quando – com doze ou treze anos – olhando-me no espelho questionava o porquê de não ser uma garota “normal”.

Graças a Deus, esse período passou e, também por isso, a maioria desses pensamentos já não me perturba mais. E, antes de pensarem que hoje sou uma mulher linda, por favor, não se enganem! Não mudei muito de lá para cá (continuo com meu rostinho de 15 e voz de 10...hahaha). Assim, se vivenciei alguma transformação ao longo do tempo, esta se deu, unicamente, no meu modo de encarar minha vida e meu corpo físico. E essa mudança de pensamento foi providencial, afinal, se a idade vai aumentando, espera-se que a gente vá amadurecendo, também, não é? Pelo menos em alguns sentidos...

Hoje vejo  que a beleza é tão subjetiva, quanto efêmera; sei que ela passa e que nossa aparência, pode, assim, transformar-se num piscar de olhos. Vejamos quantas, dentre modelos, atrizes ou artistas de um modo geral, foram, adolescentes – meninas ou meninos – “desengonçados, magrinhos ou cheinhos demais” e, já adultos, transformaram-se em pessoas tidas ou reconhecidamente belas?! Assim, subjetiva, a noção de “belo” ou “feio” está intimamente ligada aos referenciais que cada pessoa traz consigo; àquilo que o individuo vê, ouve e aprende ao longo da vida. Nossas opiniões variam tanto! Uma pessoa pode ser linda sob o seu ponto de vista e, sob o meu não. E, vice versa... Ou, ninguém discordou da minha opinião sobre a linda da Sandy? Isso é mais que natural. A diversidade é a marca de tudo que existe no universo, por que seria diferente conosco? Podemos até ter afinidade com algumas pessoas, mas, em essência, somos seres únicos, diferentes; com opiniões, vivencias e conceitos diferentes! 

Efêmera, a beleza física é transitória. Digo, não está em nossas mãos o poder de controlá-la, preservá-la, fazê-la estacionar. As características que nossa sociedade preza tanto a ponto de impô-las, como um padrão estético daquilo que é belo, algumas são tão passageiras quanto às estações do ano. A pessoa que as possui no verão, pode não mais apresenta-las na primavera seguinte, por exemplo. E isso é um fato! Para as mulheres um corpo esbelto, magro, cabelos sedosos, pele bronzeada... Para os homens, corpo malhado, barriga tanquinho. Ah, falemos a verdade: Quem se mantém constantemente assim?

Imagino a angustia que deve ser para a mulher que vive em guerra com a balança, contando as calorias de cada coisinha que come; a aflição se, porventura, um atraso a impede de fazer a chapinha no cabelo antes de ir para festa; o desespero de perceber uma celulite, então... E quanto aos homens, que até pouco tempo eram mais relaxados com a própria aparência, alguns – agora – vivem as voltas dentro das clinicas de estética e dos salões de beleza, etc... Embora não seja minha intenção fazer qualquer tipo de julgamento, acho que nesses casos excessivos, mais que tratamentos estéticos para o corpo, é preciso cuidar da beleza da alma. Esta sim está precisando de atenção, pois, talvez, estejam lhe sobrando idéias preconcebidas, falsas verdades, medos, inseguranças, perfeccionismo.

Chegando a conclusão das minhas poucas e bobas reflexões, confesso que tenho hoje como meta para mim um tipo mais importante de beleza. A beleza a qual se fala tanto na teoria, mas que poucos verdadeiramente buscam; àquela relacionada principalmente com nosso modo de ser e estar – estar, no sentido de fazer, agir – no mundo. Hoje, e acima de tudo, busco e quero transformar, tornar belos meus sentimentos, minhas ações... Tratamentos estéticos? Por favor, mas que sejam os que vão me ajudar a limpar o egoísmo ainda presente em alguns dos meus atos. Cirurgias plásticas? Claro, se elas forem feitas no meu coração, para extrair dele o orgulho, o medo e a insegurança que só me prejudicam. Só dessa forma eu sei que a verdadeira beleza irradiará de mim. Só assim eu terei a certeza de que, sim, serei realmente linda, pois, como lembrei do início desse texto, “O essencial [e verdadeiramente belo] é invisível aos olhos.”.

***

Esse é mais um post cujo tema  - Ditadura da beleza - foi proposto pelo Rotaroots, para o post especial do mês de setembro. Ainda não conhece o grupo? Clique > aqui < para maiores informações.

http://letras-e-suspiros.blogspot.com.br/2014/09/segundo-post-no-rotaroots-e-blogagem.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário