sábado, 11 de fevereiro de 2017

REVISTA ESPIRITA - outubro 1863 - ENTERRO DE UM ESPÍRITA NA VALA COMUM.

REVISTA ESPIRITA
JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
OUTUBRO 1863
 
ENTERRO DE UM ESPÍRITA NA VALA COMUM.

 

Depois de cumpridas as últimas formalidades fúnebres, esses senhores foram, no mesmo cemitério, fazer uma visita espírita ao túmulo de GEORGES, esse eminente Espírito que deu, por intermédio da senhora Gostei, as belas comunicações que nossos leitores, frequentemente, têm admirado. O Sr. Georges, quando vivo, era o cunhado do Sr. d'Ambel. Ali, por intermédio do Sr. Vézy, recolheu as palavras seguintes:

"Embora não vivamos aqui (no lugar da inumação), gostamos, no entanto, de aqui vir vos agradecer as preces que vinde aqui dirigir para nós, e de algumas flores que derramais sobre nossos túmulos.

"Quanto bem faz crer nesses lugares de repouso e de prece! as almas podem conversar mais facilmente, e se dizem melhor, nesses impulsos íntimos, os sentimentos que as animam: uma junto de um túmulo, a outra planando acima!

"Acabais de dizer adeus a um de vossos amigos; eu vos agradeço por não terem me esquecido. Estava convosco nessa multidão de Espíritos que se pressionam junto à tumba que acaba de se abrir, e estava feliz em ver em vossos corações a vossa convicção e a vossa fé. Misturei minhas preces às vossas, e os Espíritos bem-aventurados as levaram para Deus!

"A fé espírita, meus bons amigos, fará volta ao mundo e acabará por tornar sábios os loucos; penetrará mesmo no coração desses padres que vistes há pouco sorrirem, e que vos causaram uma verdadeira dor... (alusão à maneira pela qual se realizou a cerimônia religiosa). Seu escândalo fez sangrar vossos corações, mas superastes vossa indignação pensando no bem que vós mesmos iríeis derramar sobre a alma de vosso amigo. Está ela aqui, junto a mim, e me pede para vos agradecer em seu nome.

"Já vos foi dito, o túmulo é a vida. Vinde algumas vezes, frequentemente, à sombra do salgueiro, ao pé da cruz mortuária; no meio do silêncio, da calma, ouvireis uma harmonia divina, ouvireis, no meio das brisas, os concertos de nossas almas cantarem Deus... a eternidade... depois alguns de nós se destacarão dos coros sagrados para virem vos instruir sobre os vossos destinos. O que, até este dia, permaneceu mistério para vós, se revelará pouco a pouco aos vossos olhares, e podereis compreender vosso começo e vossas grandezas futuras.

Tomai, pois, encontros aqui, vós que quereis vos tornar sábios; aqui lereis as páginas da eternidade, e o livro da vida estará sempre aberto para vós. Neste lugar de calma e de paz, a voz do Espírito parece melhor se fazer ouvir àquele que quer se instruir; ela toma proporções mágicas e sonoras, e seus acentos penetram mais sobre aquele que ela quer agir.

"Trabalhai com zelo e fervor para a propaganda da ideia nova, nisso vos ajudarei sem cessar, e se a tranquilidade do túmulo amedronta alguns, que saibam que os bons Espíritos são felizes por instruírem por toda a parte.

"Adeus e obrigado! Gostaria de poder comunicar ao mundo inteiro a fé da qual estais cheios! mas, em verdade, eu vo-lo digo, o Espiritismo é a alavanca com a qual Arquimedes levantará o mundo!

"Algumas palavras a vós, meu irmão, particularmente, uma vez que a ocasião disso se apresenta. Dizei à minha irmã para sempre amar os deveres impostos por Deus, tão pesados que sejam esses deveres; dizei-lhe para amar nossa mãe e me substituir junto dela; dizei-lhe para velar sobre minha filha, de sorrir ao céu e de encontrar os perfumes em cada flor da terra... Avós, meu irmão, aperto as duas mãos.

"GEORGES."

Daí ressalta um duplo ensino. Poder-se-ia admirar-se de que um Espírito, tão vizinho da época da morte, haja podido se exprimir com tanta lucidez, mas deve-se lembrar que o Sr. Sanson foi evocado na câmara mortuária, antes da retirada do corpo, e que deu, nesse momento, a bela comunicação que se pôde ver na Revista. Sua perturbação não havia durado senão algumas horas, e sabe-se, aliás, que o desligamento é rápido nos Espíritos avançados moralmente.

De um outro lado, por que o Sr. Vézy desceu à sepultura? Havia nisso utilidade ou era isso uma simples encenação? Afastemos primeiro este último motivo, porque os Espíritas sérios agem seriamente e religiosamente, e não fazem exibição; em semelhante momento, teria sido uma profanação. A utilidade, seguramente, não era absoluta; é preciso nisso ver um testemunho mais especial de simpatia, em razão mesmo de que o defunto estava na fossa comum. Sabe-se, aliás, que o acesso a essas valas é mais fácil do que os das covas particulares, cuja entrada é estreita, e o Sr. Vézy encontrava-se ali mais comodamente para escrever.

Isso poderia ter, no entanto, sua razão de ser, de um outro ponto de vista que, provavelmente, não veio ao pensamento do Sr. Vézy. Sabe-se que a evocação facilita o desligamento do Espírito, e pode abreviar a duração da perturbação. Sabe-se igualmente que os laços que unem o Espírito ao corpo não são sempre inteiramente quebrados logo depois da morte. Disso eis um notável exemplo:

Um jovem havia perecido acidentalmente de maneira muito infeliz. Sua vida havia sido a de muitos jovens ricos, desocupados, quer dizer, muito material. Comunicou-se espontaneamente a um médium de nosso conhecimento, que o conhecera quando vivo, pedindo que fosse lá evocá-lo e orar sobre seu túmulo para ajudar a romper os laços que o retinham ao seu corpo, do qual não podia chegar a se desembaraçar. Evidentemente, deve haver nesse caso uma ação magnética facilitada pela proximidade do corpo, e aí está, talvez, uma das causas que levam instintivamente os amigos dos defuntos a irem .orar no lugar onde seu corpo repousa.

Enviado por: "Joel Silva"

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