REVISTA ESPIRITA
JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
OUTUBRO 1863
ENTERRO
DE UM ESPÍRITA NA VALA COMUM.
Depois de
cumpridas as últimas formalidades fúnebres, esses senhores foram, no mesmo
cemitério, fazer uma visita espírita ao túmulo de GEORGES, esse eminente
Espírito que deu, por intermédio da senhora Gostei, as belas comunicações que
nossos leitores, frequentemente, têm admirado. O Sr. Georges, quando vivo, era
o cunhado do Sr. d'Ambel. Ali, por intermédio do Sr. Vézy, recolheu as palavras
seguintes:
"Embora
não vivamos aqui (no lugar da inumação), gostamos, no entanto, de aqui vir vos
agradecer as preces que vinde aqui dirigir para nós, e de algumas flores que
derramais sobre nossos túmulos.
"Quanto
bem faz crer nesses lugares de repouso e de prece! as almas podem conversar
mais facilmente, e se dizem melhor, nesses impulsos íntimos, os sentimentos que
as animam: uma junto de um túmulo, a outra planando acima!
"Acabais
de dizer adeus a um de vossos amigos; eu vos agradeço por não terem me
esquecido. Estava convosco nessa multidão de Espíritos que se pressionam junto
à tumba que acaba de se abrir, e estava feliz em ver em vossos corações a vossa
convicção e a vossa fé. Misturei minhas preces às vossas, e os Espíritos
bem-aventurados as levaram para Deus!
"A fé
espírita, meus bons amigos, fará volta ao mundo e acabará por tornar sábios os
loucos; penetrará mesmo no coração desses padres que vistes há pouco sorrirem,
e que vos causaram uma verdadeira dor... (alusão à maneira pela qual se
realizou a cerimônia religiosa). Seu escândalo fez sangrar vossos corações, mas
superastes vossa indignação pensando no bem que vós mesmos iríeis derramar
sobre a alma de vosso amigo. Está ela aqui, junto a mim, e me pede para vos
agradecer em seu nome.
"Já
vos foi dito, o túmulo é a vida. Vinde algumas vezes, frequentemente, à sombra
do salgueiro, ao pé da cruz mortuária; no meio do silêncio, da calma, ouvireis
uma harmonia divina, ouvireis, no meio das brisas, os concertos de nossas almas
cantarem Deus... a eternidade... depois alguns de nós se destacarão dos coros
sagrados para virem vos instruir sobre os vossos destinos. O que, até este dia,
permaneceu mistério para vós, se revelará pouco a pouco aos vossos olhares, e
podereis compreender vosso começo e vossas grandezas futuras.
Tomai,
pois, encontros aqui, vós que quereis vos tornar sábios; aqui lereis as páginas
da eternidade, e o livro da vida estará sempre aberto para vós. Neste lugar de
calma e de paz, a voz do Espírito parece melhor se fazer ouvir àquele que quer
se instruir; ela toma proporções mágicas e sonoras, e seus acentos penetram
mais sobre aquele que ela quer agir.
"Trabalhai
com zelo e fervor para a propaganda da ideia nova, nisso vos ajudarei sem
cessar, e se a tranquilidade do túmulo amedronta alguns, que saibam que os bons
Espíritos são felizes por instruírem por toda a parte.
"Adeus
e obrigado! Gostaria de poder comunicar ao mundo inteiro a fé da qual estais
cheios! mas, em verdade, eu vo-lo digo, o Espiritismo é a alavanca com a qual
Arquimedes levantará o mundo!
"Algumas
palavras a vós, meu irmão, particularmente, uma vez que a ocasião disso se apresenta.
Dizei à minha irmã para sempre amar os deveres impostos por Deus, tão pesados
que sejam esses deveres; dizei-lhe para amar nossa mãe e me substituir junto
dela; dizei-lhe para velar sobre minha filha, de sorrir ao céu e de encontrar
os perfumes em cada flor da terra... Avós, meu irmão, aperto as duas mãos.
"GEORGES."
Daí
ressalta um duplo ensino. Poder-se-ia admirar-se de que um Espírito, tão
vizinho da época da morte, haja podido se exprimir com tanta lucidez, mas
deve-se lembrar que o Sr. Sanson foi evocado na câmara mortuária, antes da
retirada do corpo, e que deu, nesse momento, a bela comunicação que se pôde ver
na Revista. Sua perturbação não havia durado senão algumas horas, e
sabe-se, aliás, que o desligamento é rápido nos Espíritos avançados moralmente.
De um outro
lado, por que o Sr. Vézy desceu à sepultura? Havia nisso utilidade ou era isso
uma simples encenação? Afastemos primeiro este último motivo, porque os
Espíritas sérios agem seriamente e religiosamente, e não fazem exibição; em semelhante
momento, teria sido uma profanação. A utilidade, seguramente, não era absoluta;
é preciso nisso ver um testemunho mais especial de simpatia, em razão mesmo de
que o defunto estava na fossa comum. Sabe-se, aliás, que o acesso a essas valas
é mais fácil do que os das covas particulares, cuja entrada é estreita, e o Sr.
Vézy encontrava-se ali mais comodamente para escrever.
Isso
poderia ter, no entanto, sua razão de ser, de um outro ponto de vista que,
provavelmente, não veio ao pensamento do Sr. Vézy. Sabe-se que a evocação
facilita o desligamento do Espírito, e pode abreviar a duração da perturbação.
Sabe-se igualmente que os laços que unem o Espírito ao corpo não são sempre
inteiramente quebrados logo depois da morte. Disso eis um notável exemplo:
Um jovem
havia perecido acidentalmente de maneira muito infeliz. Sua vida havia sido a
de muitos jovens ricos, desocupados, quer dizer, muito material. Comunicou-se
espontaneamente a um médium de nosso conhecimento, que o conhecera quando vivo,
pedindo que fosse lá evocá-lo e orar sobre seu túmulo para ajudar a
romper os laços que o retinham ao seu corpo, do qual não podia chegar a se
desembaraçar. Evidentemente, deve haver nesse caso uma ação magnética
facilitada pela proximidade do corpo, e aí está, talvez, uma das causas que
levam instintivamente os amigos dos defuntos a irem .orar no lugar onde seu
corpo repousa.
Enviado por: "Joel Silva"
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