O
Espiritismo e a crise brasileira
É
indispensável secar a fonte, ou seja, combater as causas dos males que atingem
nossa sociedade.
F.
Altamir da Cunha
altamir.cunha@bol.com.br
01/01/2017
altamir.cunha@bol.com.br
01/01/2017
Nos
últimos anos temos acompanhado, através da mídia, notícias que revelam uma das
maiores crises da história do Brasil; tanto no aspecto socioeconômico quanto no
moral. A inflação ultrapassou níveis considerados suportáveis; o desemprego
cresceu; a insegurança se instalou em vários setores da sociedade, com predominância
nas classes já há muito consideradas menos favorecidas; a violência urbana
coloca o país como um dos mais violentos do mundo; criaturas que mal chegaram à
adolescência são protagonistas deste triste drama e são reconhecidas como de
alta periculosidade; a corrupção parece ter se tornado prática comum no cenário
político.
Como
consequência, a população brasileira, angustiada, anseia por providências que
transformem esse indesejável cenário, propiciando que a paz, a justiça e a
prosperidade se tornem realidade. As manifestações populares são frequentes,
atendendo a um direito ínsito em qualquer país regido pela democracia. No
entanto, no meio da imensa massa que ocupa as ruas, inconformada com a
indesejável situação, encontram-se revoltados e violentos que não acreditam em
mudanças conquistadas de forma pacífica; agridem, depredam patrimônios públicos
e privados, sem perceber que tão equivocada atitude é equivalente a de quem
pretende sarar um ferimento colocando ácido.
As
propostas apresentadas para solucionar a crise são variadas, obedecendo ao
sabor das ideologias partidárias e de alguns setores influentes da sociedade.
Na prática, porém, muito mais do que interesse em resolver as graves questões,
com vista ao progresso e ao bem-estar da população, assistimos a uma luta
desenfreada em atendimento a interesses individuais e de grupos. Basta
considerarmos as propostas que concedem aumentos substanciosos de recursos
financeiros, beneficiando partidos políticos, em detrimento de setores
importantes como educação, saúde, segurança, etc., em contraste com uma das
principais propostas por eles mesmos, apresentada: a contenção de gastos.
A
corrupção e a violência são as duas principais causas de inconformação e
revolta da população, que sugere leis mais duras para punir os infratores;
justificam tal proposta afirmando que a impunidade e a brandura das penas
estimulam o aumento e a perpetuação das contravenções.
Ante
tão complexos problemas, à luz da Doutrina Espírita, sem o envolvimento em
paixões partidárias ou interesses que não sejam direcionados ao bem-estar da
coletividade, o que teríamos a propor?
Iniciemos
analisando a proposta de leis mais severas, como solução aos citados desmandos,
recorrendo a O Livro dos Espíritos, na questão 796:
“No
estado atual da sociedade, a severidade das leis penais não constitui uma
necessidade?
“Uma
sociedade depravada certamente precisa de leis severas. Infelizmente, essas
leis mais se destinam a punir o mal depois de feito, do que lhe secar a fonte.
Só a educação poderá reformar os homens que, então, não precisarão mais de leis
tão rigorosas.”
É bem
verdade que a impunidade poderá estimular aqueles que em potencial são
portadores de enfermidades morais à prática da corrupção e da violência; porém,
a severidade das leis por si só não eliminará o mal. É indispensável secar a
fonte, ou seja, combater a causa. Somente a educação, e não apenas a educação
convencional, mas sim a que espiritualiza e desperta o autoconhecimento, que
não dissocia direitos de deveres. Eduque-se o Ser, conscientizando-o sobre a
imortalidade da alma, a reencarnação, a lei de causa e efeito que proporciona a
cada um segundo as suas obras e, com certeza, todos pensarão muito antes de
agir. Claro que os resultados não se farão de imediato; é preciso tempo para que
se desconstrua a educação materialista que os animou há séculos. Porque não é
suficiente crer; é preciso ter convicção, certeza. Haja vista a todos que de
forma direta ou indireta são responsáveis por esse triste drama e que em sua
grande maioria tem religião definida.
Pelo
exposto, sem nenhuma paixão ou fanatismo, podemos afirmar que o Espiritismo tem
muito a contribuir não somente para a solução dos graves problemas que
massacram o povo brasileiro, mas os de toda a humanidade. Porque “(...)
Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os
homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a
vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio
do presente lhe é dado preparar o futuro (...).”[1]
Mais
espiritualizado, mais consciente da lei de causa e efeito que rege nossas
ações, o cidadão agirá com responsabilidade quanto à escolha dos que serão
responsáveis pela condução da nação; não pensarão apenas em seus interesses,
porém nos interesses da coletividade. Sendo assim, também, destes dirigentes
espiritualizados, sem as influências limitadoras do materialismo, espera-se a
sintonia com as lições maravilhosas do Mestre Jesus, instituindo como pilares
de sua administração:
a) O
trabalho –”O pai até hoje trabalha e eu também trabalho”.
Não há
nação próspera sem trabalho; o trabalho é a força propulsora do progresso. Em
um país onde seus habitantes se acomodam à ociosidade, trocando o trabalho pelo
assistencialismo governamental ou outras ações semelhantes, predominará sempre
a estagnação e a miséria.
b) O
amor – “Um mandamento vos deixo, que vos ameis uns aos outros como eu vos
amei”.
O amor
em prática chama-se caridade; e o verdadeiro sentido da palavra caridade como a
entendia Jesus é apresentado na questão 886 de O Livro dos Espíritos:
“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros,
perdão das ofensas”.
Onde
existe amor, existe a união, o respeito, a solidariedade e a tolerância. Não há
lugar para o orgulho e o egoísmo; consequentemente, inexiste qualquer forma de
violência, corrupção, desigualdades extremas ou personalismo, individual ou de
grupo. O lema “cada um por si” cederá lugar a “todos por todos”.
c) A
justiça – “Tudo que quereis que os homens vos façam, fazei vós também a eles”.
Feliz
o povo cuja nação é dirigida com justiça; nela não existirá parcialidade,
protecionismo, nem tampouco perseguição. Os que julgam e os que dirigem agirão
sempre com imparcialidade, ainda que os beneficiados sejam seus opositores;
pondo em prática o que o Mestre Jesus ensinou: “Dai a César o que é de César e
a Deus o que é de Deus”.
Não
temos dúvida que em uma nação onde sejam cumpridos fielmente estes princípios
reinará a paz e a prosperidade.
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trecho da resposta à questão 799.
(Fonte: RIE janeiro
2017)
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