segunda-feira, 21 de agosto de 2017

REVISTA ESPIRITA - março 1864 - Instruções dos Espíritos (Jacquard e Vaucanson)

REVISTA ESPIRITA
JORNAL
DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
7 a ANO NO. 3 MARÇO 1864

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS.
Jacquard e Vaucanson.
Nota. - Nosso colega, Sr. Leymarie, levado por uma força involuntária, tendo se levantado um destes dias mais cedo do que de hábito, sentiu-se involuntariamente solicitado a escrever, e obteve a dissertação espontânea seguinte:
Uma geração de operários amaldiçoou meu nome; tinham razão? estavam errados?
Ah! será o futuro que deverá responder.
Eu tinha uma idéia fixa, a de aperfeiçoar, e sobretudo de economizar, suprimindo algumas mãos; queria simplificar o serviço à moda Vaucanson, que pegava a criança em baixa idade para dela fazer esse pária singular, pálido, raquítico, de ar assustado, na linguagem burlesca, que formava uma população à parte de minha cidade natal.
Meu espírito estava em tensão contínua; adormecia para encontrar ao despertar um plano novo; em lugar de imagens e de sentimentos, meu pensamento era uma engrenagem, um cilindro, motores, polias, alavancas; em meus sonhos vi aparecer meu anjo guardião que punha em movimento todas as minhas aspirações, todas as obras das mãos do homem. Disse-se com razão: "Os mecânicos são os poetas da matéria;" as mais belas máquinas saíram todas feitas do cérebro de um operário; as noções mecânicas que não possui, as recria de novo; a paciência e a imaginação são seus únicos recursos. É verdade, é uma inspiração de bons Espíritos desprezada pelas academias ou sábios de profissão; mas não é menos verdadeiro que se Arquimedes e Vaucanson são os gênios da mecânica, os Virgílios, se quereis, não é senão essa paciência, unida a uma imaginação viva, que cria todas as descobertas das quais se a Humanidade se honra, e isto por quem? pelos monges, pelos fabricantes de louças, pelos cardadores de lã, pelos pastores, pelos marinheiros, um operário em seda, um ferreiro ignorante.
Humilde operário, eu não era um gênio, mas, como tantos outros, um predestinado chamado a simplificar um ofício que deslocava os membros abreviando a vida de milhares de crianças. Suprimi um suplício físico; tudo em servindo à indústria, servi o gênero humano.
É preciso admirar a Providência, que se serve de um pobre Jacquard para transformar um ofício que alimenta milhares, que digo eu, milhões de homens sobre a Terra; e é um inseto que o túmulo assalaria, que transforma e nutre os dois quintos do globo. Deus não é um mecânico maravilhoso? Ele criou o verme para a seda, esse engenhoso artista no qual fez encontrar o mais vasto problema de economia política. Que ensinamento para os orgulhosos e os indiferentes!
Questão de máquinas! questão terrível! Cada invenção arranca a ferramenta e o pão à populações inteiras; o inventor, portanto, é um inimigo de perto, um benfeitor à distância; decupla a força da arte e da indústria; multiplica o trabalho no futuro; merece muito da Humanidade, mas também não causa um mal presente? O primeiro inventor da máquina de fiar destruiu o recurso de muitas pessoas. Quem fiava a matéria bruta, senão a mãe de família, a pastora, as mulheres velhas? Tão mínimo que fosse o seu salário, pelo menos habilitava-as, fazia-as viver tão bem quanto mal.
Semelhantes aos inventores de verdades religiosas, políticas ou morais, os inventores de máquinas revolucionam a matéria; precursores do futuro, abrem violentamente seus caminhos através dos interesses, esmigalhando sob seus pés o passado; também são, à espera de sua recompensa distante, amaldiçoados por seus concidadãos.
Pobre Humanidade! tu és estúpida se te deténs, cruel se tu caminhas; deves, segundo Deus, não ficar estacionaria se não quiseres perpetuar o mal, mas para cumprir o bem, és revolucionária apesar de tudo.
E é por isso que, neste tempo de transição, Deus vos disse: Sede Espíritas; quer dizer, profundamente imbuídos de iniciativa moral e desinteressada; quer dizer prontos para todos os sacrifícios, a fim de que a vossa existência se cumpra.
Como o verme da seda, rastejei penosamente, sustentado pelos bons Espíritos; como ele, fiei minha prisão, dei tudo o que tinha; como ele, meus contemporâneos me desdenharam; mas também, como ele, o Espírito renasce de suas cinzas para viver verdadeiramente e admirar essa mecânica dos mundos, esse Deus de luz e de bondade que consentiu em ensinar à minha cidade natal esse Espírito de verdade que a vivifica e a consola.
JACQUARD.


Enviado por: "Jose Joel da Silva Junior"

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