domingo, 20 de agosto de 2017

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão - A039 – Cap. 16 – Compromissos redentores – Primeira Parte

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
 Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A039 – Cap. 16 – Compromissos redentores – Primeira Parte

16
Compromissos redentores

As atividades absorviam-nos e o tempo transcorria generoso, ensejando-nos o aproveitamento das suas lições, gemas que incorporávamos ao patrimônio imorredouro do espírito.
A família Soares organizara singela recepção para a tarde de domingo, quando Adalberto, jubiloso com o aniversário de Mariana, assumiria o compromisso do noivado, pedindo à sua mão ao Sr. Mateus:
Era natural, portanto, que nos reuníssemos naquele lar, participando das justas alegrias que chegavam como resposta divina às dores terrenas.
O genitor da família, após cinco meses de repouso e assistência médica no lar, recuperava-se maravilhosamente. Já se conseguia pôr de pé, auxiliado pelas filhas e apoiado a uma bengala, com perspectivas de refazimento próximo. O reequilíbrio orgânico, no entanto, era de pouca significação, em se considerando as modificações reais, operadas no seu íntimo.
Se o seu passado era assinalado por descaso e desconsideração aos deveres, justo é se lhe reconheça o esforço para demonstrar o arrependimento que o afligia.
Tornara-se meigo e tratava os familiares com o necessário afeto. Lamentava a perda de tempo e a idade já avançada, que lhe não permitiria refazer os caminhos percorridos para a reabilitação. O Evangelho, em lhe penetrando o espírito, rasgara visões esplendorosas de luz e vida. Emocionava-se, quando em palestras íntimas se reportava às consolações que tão tardiamente conseguira aceitar. Embora desconhecesse outros informes mais elucidativos dos dramas que abalaram os alicerces do seu lar, encontrara na reencarnação resposta às angústias e rebeldias íntimas, que tanto o atormentaram a vida inteira. Dizia-se dominado durante quase todos os anos de vida, por ódio surdo, que, semelhante a instrumento de percussão, reboava interiormente, despedaçando-o inexorável... Todavia, o tempo lhe ensejava recomposição íntima, melhor visão das coisas e dos acontecimentos, sentindo-se em preparativos para a partida. Já não receava a desencarnação. O conhecimento do Espiritismo lhe matara o temor da morte.
Por sua vez Adalberto, que procedia do interior do Estado e residia em Casa de Pensão, sem o arrimo de uma fé segura e nobre, deixava-se conduzir por uma vida de frivolidades comuns aos da sua idade, passou também a se transformar interiormente, fascinado imensamente pelo conhecimento da Doutrina dos Espíritos.
O moço, que já armazenara suficiente depósito de prazeres nas experiências da leviandade, era ardente e apaixonado. Embora não fosse portador de cultura, era esclarecido e possuidor de lúcido tirocínio intelectual. Passou a estudar a Codificação Kardequiana, e, depois, os romances mediúnicos lhe tomaram os sentimentos. A lógica da reencarnação e a programação dos destinos, obedecendo a um roteiro adrede traçado, com as naturais concessões ao livre arbítrio de cada um, era para ele especial tema de conversações. Compreendendo as responsabilidades da vida, apressou-se em abandonar os velhos hábitos, e, ante os infortúnios, que se transformaram em bênçãos no lar dos Soares, aproximou-se da família desde a enfermidade de Mariana, e fez-se quase o filho do sexo masculino que faltava naquele domicílio. Suas mãos e braços vigorosos se tornaram inúmeras vezes no socorro eficiente ao velho doente, e sua presteza e generosidade foram alavancas de salvação por ocasião dos diversos acontecimentos...
Acreditando-se necessitado de construir o próprio lar, resolvera consorciar-se com Mariana, a quem se encontrava fortemente vinculado pelo amor. O décimo sétimo natalício da moça era ocasião oportuna para o compromisso oficial do noivado, que deveria culminar com o matrimônio, logo estivessem em condições de fazê-lo.
Assim, a modesta e honrada família convidou os poucos amigos para o ato oficial, que estava sendo a razão da alegria de todos, desde os dias anteriores.
Fomos Petitinga, Morais e nós, encontrando a família Soares com alguns poucos convidados, e mais Adalberto e o seu genitor que viera para a ocasião.
Após o pedido feito pelo seu ao pai de Mariana, foram apresentadas as alianças representativas do compromisso e servido singelo e bem cuidado lanche.
Os sorrisos falavam das emoções daquele entardecer. Marta e Mariana, Dona Rosa e as demais filhas pareciam crianças gárrulas, esfuziantes. O Sr. Mateus, bastante feliz, tinha, porém, o semblante velado por discreta tristeza. Era por se recordar do passado e se sentir impossibilitado de reconstruí-lo.
Por nossa vez, lembrava-me dos acontecimentos que ali tiveram palco e considerava a misericórdia de Deus, nas suas sutilezas e sabedoria infinita, que nos escapa e que não podemos de pronto compreender. O milagre da dor produzira a bênção da misericórdia da união de todos.
Adalberto, que se encontrava muito emocionado, traçando planos para o futuro, considerou a sua posição de espírita e perguntou a Petitinga qual a solenidade religiosa que deveria haver por ocasião do seu consórcio com Mariana. Compreendia que não seria lícito submeter-se a um ato sacramental da Igreja Romana, tendo em vista o comportamento dos profitentes daquela fé, que se situava muito distante dos ensinos e práticas do vero Cristianismo. Não seria justo, porém, que houvesse no Espiritismo uma cerimônia qualquer, lavrada nas lições evangélicas, para comemorar os grandes acontecimentos da vida? — inquiriu, interessado.
Petitinga, prudente e lúcido, sorriu e esclareceu:
— Foi por adotar as práticas do Paganismo em crepúsculo que o Cristianismo nascente sofreu as adulterações que redundaram na sua paulatina extinção. Nas práticas externas e no culto luxuoso da atualidade, que encontramos das lições vivas e puras do Cristo? Onde e quando vimos Jesus praticando atos que tais? Muitos se referem à cena do batismo do Senhor, por João, como sendo aceitação tácita e concorde de um culto. Não foi isso, todavia, o que ocorreu. Deixando-se identificar pelos sinais das profecias e pelos ditos» antigos que caracterizariam o Messias, o Enviado, Ele se permitiu receber de João, diante de todos, aquele ato, para que se soubesse ser Elle o Esperado, fenômeno confirmado pelo que todos ouviram, naquele momento em que clamava uma voz: “Este é o meu Filho dileto, em quem me agrado”, conforme anotaram os Evangelistas e que João acrescenta: “Ele é o Filho de Deus”, definindo-O como o Messias... Nunca, porém, batizou. Em toda a Sua vida não O vemos em conivência com os que se nutrem da ignorância e se permitem o abuso da fé a benefício próprio.
Delicado e sóbrio, fez breve silêncio, no qual os seus olhos claros se iluminaram, e logo prosseguiu:
— O Espiritismo é a Doutrina de Jesus, em Espírito e verdade, sem fórmulas nem ritos, sem aparências nem representantes, sem ministros. É a religião do amor e da verdade, na qual cada um é responsável pelos próprios atos, respondendo por eles, conforme o conhecimento que tenha da Imortalidade, dos deveres. «É a religião da Filosofia, a Filosofia da Ciência e a Ciência da Religião, conforme predicou Vianna de Carvalho em nossa Casa, com justas razões. Não se firma em enunciados estranhos à Boa Nova e tudo quanto os Espíritos informaram ao Missionário Allan Kardec se encontra fundamentado nos Evangelhos. Alguns adversários gratuitos dizem que os Espíritos nada trouxeram de novo. E me permito indagar, repetindo o filósofo antigo: (Que há de novo sob o Sol? Novidade é também sinal de leviandade. O que nos parece novo é atualização do que acontecia e ignorávamos.
«Os Espíritos sempre se comunicaram e falaram dos renascimentos, das Leis de Causa e Efeito, conhecidas desde remotíssimas civilizações, sob a designação sânscrita de Carma. Em todos os tempos encontramos os chamados “mortos” falando aos chamados “vivos”... O que os sábios conseguiram nestes tempos foi constatar a legitimidade da existência post-mortem e comprovarem a preexistência do Espírito, antes do corpo, com a consequente sobrevivência após a morte do corpo. Allan Kardec, o Enviado para os tempos modernos, teve o incomparável mérito de codificar os ensinos esparsos, dando-lhes uma ordem filosófica, extraindo o significado moral e eterno das lições contínuas dos Imortais. Dotado de raras faculdades de inteligência e razão, acolitado por Legião de Benfeitores e por eles fortemente inspirado, propõe questões do conhecimento, indagou sobre assuntos não devidamente esclarecidos até então. Não há, porém, em toda a Codificação um só item que se não alicerce nos ensinos do Cristo, ora confirmados universalmente pelos Espíritos. O próprio Mestre, na sua assertiva da promessa do Consolador, informou claro e conciso que o Paracleto diria muito mais do que Ele dissera.
E dando melhor ênfase aos ensinos, concluiu:
— Não, não há qualquer culto externo no Espiritismo e se houvera teríamos a sua morte anunciada já para breve. Sendo Doutrina dos Espíritos, revive o Cristianismo, repitamos: em espírito e verdade!
— E não poderíamos — retornou interessado, Adalberto — formular uma oração de ação de graças em momentos que tais?
— Sim, orar, podemos fazê-lo, porém, na intimidade dos corações, no silêncio do quarto. Uma oração pública requer sempre alguém mais bem adestrado, de verbo fácil e inspirado. Assim, iremos transferindo para outrem o que nos cabe fazer. E como orar é banhar-se de luz e penetrar-se de paz, pela decorrente comunhão com o Alto, devemos fazê-lo, nós mesmos, cada um, em particular. Que os compromissados o façam, está muito bem; que os nubentes o realizem, na intimidade da alcova, é de necessidade; que os aniversariantes o produzam, no altar da alma, é muito justo. Mas evitemos hoje que a nossa emoção e a nossa festividade sejam transformadas amanhã num culto exterior, que tenhamos começado... Cada um de nós, aqui presente, deve estar em oração silenciosa de bons pensamentos, em atitude de prece pela sobriedade dos atos, mediante o respeito moral e fraternal que nos devemos todos uns aos outros... O Espiritismo é a religião que religa, permitam-nos a redundância, a criatura ao Criador, interiormente... Que tenhamos mais atitudes do que palavras!...
A frase final enunciada com um toque de bom-humor a todos nos fez sorrir, terminando, assim, a maravilhosa aula que o noivo conseguira motivar.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – Com base no que comenta Petitinga, qual a visão espírita a respeito do batismo, a que Jesus se sujeitou no início de sua missão evangélica?

2 – Qual o papel do Espiritismo no contexto de ser uma nova revelação espiritual?

3 – Segundo Petitinga, qual a posição da outra frente a celebração do casamento entre os espíritas? E qual a sua opinião?

Bom estudo a todos!
 Equipe Manoel Philomeno

Nenhum comentário:

Postar um comentário