quarta-feira, 8 de abril de 2009

Artigo: Dizendo não...

NÃO!

Conta-se que Maria-vai-com-as-outras era uma menina que não sabia dizer não; aliás Maria nem pensava: se os outros iam ela ia também, apesar de seus adultos significativos como os pais, a prof., a avó... que sempre a alertavam quantos aos perigos e aos cuidados que deveria ter. Na maioria das vezes, Maria se dava bem, mas vez ou outra as coisas se passavam do jeito que a mamãe tinha dito que ia acontecer e Maria se dava muito mal. Foi então que Maria começou a pensar, a refletir...

Esse é um resumo de uma história infantil que se costuma contar para as crianças na pré-escola, recurso lúdico que se utiliza para ensinar brincando. Os pequenos logo "pegam" a moral da história: devemos sempre pensar sobre "ir-com-os-outros" - isso me trará algum bem? Estarei fazendo o bem para alguém? Vou ser mais feliz? E levando em conta a opinião dos que me amam, pois o que eles querem, acima de tudo, é que eu me dê muito bem nessa vida.

Muitos podem defender a idéia de que é preciso experimentar para saber, principalmente quando estamos adolescentes, mas adolescente não é burro. Quem é que não sabe que roubar, pixar, usar drogas, fazer sexo sem camisinha, etc. é arriscado pra dizer o mínimo? Não é preciso roubar, pixar os muros da cidade ou usar drogas, se aventurar no sexo inseguro para saber se é certo ou errado, se é bom ou ruim.

Se é assim, por que temos tanta dificuldade em dizer não quando essas oportunidades se apresentam?

Será que dizemos sempre sim porque, bem lá no fundo, queremos experimentar, mesmo sabendo que podemos nos dar muito mal? Ou será que nem pensamos nisso; temos o pensamento mágico de que pra nós nada de mal vai acontecer? Será que achamos que, diferentemente dos nossos amigos e colegas, estamos imune a tudo?

Essas reflexões que muitas vezes deixamos de fazer, podem salvar nossas vidas em tempos de Hepatites fatais, de AIDS, de overdoses, só pra mencionar os mais comuns e trágicos efeitos da nossa irresponsabilidade.

Pegando apenas o exemplo das drogas, os cantos escuros de nossa cidade estão cheios de jovens perdidos que vivem apenas para o momento de aliviar a fissura; já nem sabem se estão vivos; na verdade não vivem, se drogam. Mas um dia esses jovens tiveram a oportunidade de dizer não e não disseram, preferiram o prazer imediato, não lembraram que este prazer também é passageiro e destruidor. Nossos hospitais estão lotados de jovens doentes que poderiam ter evitado a tragédia simplesmente dizendo não no momento certo: o momento do prazer que cobra caro e o preço é a vida.

Estamos nos perdendo por falta de conhecimento, de informação? Cremos que não. Hoje em dia temos acesso a toda a informação de que precisamos, mesmo que a família falhe nesse quesito tão importante. Então, o que está nos levando à destruição? É o vazio existencial, a falta de amor, de acolhimento? Curiosidade? Falta de perspectivas? Fuga? Desejo de experimentar? Modismo? São reflexões necessárias...

Dr. Jorge Lordello costuma contar uma historinha nas suas palestras: o professor percebeu que um de seus alunos, de nome João, mudara de comportamento bruscamente e imaginou que possivelmente o jovem estivesse usando drogas. Foi nesse momento que o mestre resolveu fazer uma experiência: “Vou ensinar para todos vocês a verdadeira sabedoria do bem viver. Por favor, João, venha aqui na frente". O jovem foi andando vagarosamente e prostrou-se ao lado do professor que iniciou a brincadeira: "Imagine que você está à beira de um abismo, sendo que ao seu lado esta toda a sua família, seus amigos. Se você pular, todos seus parentes e amigos tentarão salvá-lo e com isso todos cairão juntos com você". A classe é tomada de silêncio. "E agora o que você vai fazer João?". O jovem entendeu o recado e murmurou: "Adoro, minha família e os meus amigos, vou ficar com eles ao invés de cair no abismo".

Este abismo pode representar as drogas como no nosso exemplo, o sexo sem segurança, ou qualquer outra forma de pôr a vida em risco, e o nosso desejo é que este texto sirva para refletirmos sobre essas questões que, aparentemente, não têm respostas, mas que sabemos muito bem qual é: saber dizer não visualizando as consequências futuras, pois a Lei de Ação e Reação não falha nunca e é para todos.

(Eloci Mello é membro da Equipe do CVDEE)

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