sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ativistas urbanos

Longe da política tradicional, jovens lutam por novas causas e encontram formas alternativas de mobilização

Verônica Mambrini

Eles são engajados, mas não querem saber de partidos políticos. Envolvem-se em causas humanitárias, sociais e ecológicas, mas acham que as organizações não governamentais (ONGs) estão fora da realidade. Rejeitam líderes e, para se organizar, usam a internet, numa rede que os liga a grupos semelhantes na mesma cidade, ou outros países. Os novos ativistas atuam à margem da estrutura política tradicional e fazem de suas convicções uma forma de viver.


VÁRIAS REFERÊNCIAS As bebês Stellaluna (atrás) e Violeta Luz nasceram em casa e são criadas pela comunidade que vive na Morada da Floresta

Na Morada da Floresta, residência comunitária em São Paulo, isso é bem evidente. Lá, vivem duas famílias e um amigo que dão cursos, palestras e vendem produtos ligados ao ecofeminismo.



"Nossa proposta está ligada ao parto natural, com parteira, em casa", explica Ana Paula Silva, 25 anos. É um retorno às origens. Eles defendem o uso de absorventes e fraldas de pano e de acessórios que aproximam os pais do bebê, como os slings - faixas que permitem transportar a criança colada ao corpo da mãe ou do pai.

Diferentemente do feminismo da década de 60, a ecologia feminina defende a harmonia com o masculino.

"A participação do pai nos cuidados com o filho desabrocha virtudes nos homens, como o companheirismo e a sensibilidade", diz Ana Paula. Todos os moradores da casa participam da educação das crianças, que devem crescer com várias referências adultas.

ANIMAIS LIVRES Organizando-se pela internet, o grupo Libertação Animal reúne cerca de 300 manifestantes em protestos contra rodeios e circos

Eles também têm preocupações ecológicas. Cultivam horta no quintal, reciclam lixo orgânico numa composteira e coletam água da chuva.


DUPLO ATIVISMO Luísa Pereira e Diogo Camacho são veganos e usam bicicleta como meio de transporte

No novo ativismo, o meio ambiente está no centro das preocupações. "Transcende os interesses de classe social ou grupo político", diz José Guilherme Magnani, professor do Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo. Esta é a base dos jardineiros de guerrilha. Carregados de "bombas" de sementes, mudas de árvores e armados de pás e enxadas, eles silenciosamente repovoam de verde espaços de terra abandonados, como praças ou terrenos. "A ideia surgiu como uma forma de fazer algo contra a ditadura do asfalto", explica Sandro Muniz do Nascimento, 27 anos.

Jardim é um nome simbólico. Pode ser o plantio de uma única flor ou a recuperação de áreas degradadas com espécies nativas. Nos blogs dedicados à jardinagem libertária (outro nome para a prática) há dicas de como fazer as "bombas" de argila, adubo e sementes e sobre qual espécie é adequada para cada lugar. A preocupação não é apenas ambiental. "É um retorno ao viver em sociedade, falar com o vizinho, cuidar juntos da planta que está na porta dos dois", diz Sandro. Portugal, Bélgica, Inglaterra e Itália são alguns países onde grupos de guerrilha de jardim também trocam informações em blogs. "A globalização é uma característica das novas formas de ativismo", diz Caroline de Mello Freitas, professora de antropologia social da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP).

De modo geral, os ativistas do século XXI desconfiam do capitalismo e das instituições. Segundo Magnani, da USP, isso ocorre porque por trás de uma corporação há sempre a ideia de lucro, o que contraria a utopia que move os grupos. "Além de não ser transparente,simboliza os interesses privados, mes quinhos, pequenos", diz o professor, que estuda os jovens nas metrópoles e lançou um livro sobre o assunto.


Neste contexto, até as ONGs são vistas com reserva. "O foco é abstrato, é preservar uma onça-pintada a mil quilômetros de distância", diz o estudante João Paulo Amaral. "Você pode oferecer voluntariado e doações, mas é muito superficial." Quando decidiu se mobilizar, ele se juntou ao Coletivo Ecologia Urbana. Os coletivos são versões modernas das velhas assembleias. Lá, pessoas com interesses e objetivos parecidos se reúnem, sem hierarquia, para decidir como pôr ideias em prática.


Na zona mais radical situam-se grupos anarquistas como os freegans, que rejeitam toda forma de controle. O termo vem de "free", livre ou gratuito em inglês, e prega que é possível viver do que outras pessoas descartam. "Ser freegan significa buscar alternativas ao modo de vida baseado em mercadorias, uso do dinheiro e domesticação", afirma o artista plástico Eduardo Manzini, 27 anos, que passou quatro anos sem residência fixa, morando em casas ocupadas e vivendo de doações. "Essa experiência muda sua relação com a existência e com o capital. Você acaba tendo uma vida mais livre e, ao mesmo tempo, mais completa." A crítica à cultura do desperdício é tema de uma das ações do coletivo Ativismo ABC, em Santo André, na grande São Paulo. Na sede do grupo, batizada de Casa da Lagartixa Preta, toda sexta-feira há almoços freegan, abertos ao público, preparados com verduras, legumes e frutas dos restos de feira.


Por ter vários ideais, há os que adotam mais de uma causa. Luísa Pereira, 23 anos, e Diego Camacho, 26, são veganos e cicloativistas. Eles participam da Bicicletada, passeata de bicicletas que ocorre uma vez por mês em São Paulo, usam a bike como meio de transporte e não consomem produtos de origem animal ou testados em cobaias. "Faço ativismo sem impor de forma agressiva minhas opiniões", diz Luísa, que transformou o ideal em trabalho. Ela vende adesivos, camisetas com mensagens veganas e sabonetes produzidos sem insumos animais.


Outros grupos lançam mão de ações mais contundentes. O Ativismo - Libertação Animal reúne até 300 pessoas a cada manifestação. "Defendemos a ação direta", afirma o designer Leandro Ferro, 21 anos. "Incendiar um matadouro ou destruir equipamentos de laboratório é válido, desde que não atinja a integridade física de um ser humano." O principal foco é o fechamento de rodeios e circos, mas o grupo também oferece assistência jurídica se alguém é preso. Eles se apoiam na rede para divulgar a causa.


"As alternativas de participação política revelam o quanto a sociedade se transformou", diz a professora Caroline, da Fesp. O novo ativismo é uma tendência que veio para ficar.


"Os partidos e as formas tradicionais de representação não abrem espaço para a criatividade e o entusiasmo desses grupos", diz o antropólogo Magnani. E eles nem querem esta formalidade. Acreditam que, com suas ações coletivas, podem transformar a sociedade.

http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2053/ativistas-urbanos-longe-da-politica-tradicional-jovens-lutam-por-novas-128345-1.htm

******************************************************************

Comentário:

O ser humano está sempre em busca daquilo que considera o melhor para si e para os que amam, isto não começou agora, nem terá fim, pois o processo de criação divina é eterno. Porém esta busca tem sido restrita apenas ao aspecto material, negligenciando muitas vezes o aspecto espiritual.


A Ecologia Feminina defende o resgate do feminino. O que exatamente isto quer dizer? Fazer o parto em casa, com uma parteira, abrindo mão de todo conhecimento médico conquistado com décadas de trabalho e sacrifício, abrir mão de toda tecnologia desenvolvida visando o bem estar da mãe e do bebê é resgatar o feminino?



Kardec no O Livro dos Espíritos perguntou:



"778. O homem pode retrogradar para o estado natural?


- Não, o homem deve progredir sem cessar e não pode voltar ao estado de infância. Se ele progride, é que Deus assim o quer; pensar que ele pode retrogradar para a sua condição primitiva seria negar a lei do progresso".


O parto natural é sempre indicado, porque traz menos complicações médicas, mas isto não quer dizer que devemos ter os filhos em casa, sem os devidos cuidados, sem o devido acompanhamento médico, porque isto não é racional. As pessoas sempre nasceram de parto normal, e em alguns lugares isto ainda ocorre. Mas não devemos ter um olhar romântico sobre esta questão. Qual a taxa de mortalidade infantil e materna que havia ou há nestas condições? A ciência evoluiu muito para ser negligenciada.



Certa vez ouvi de uma mãe com este ativismo, que ela não vacinava seus filhos, porque a vacina é um produto criado em laboratório e só vai fazer mal a criança. Conseguimos erradicar doenças importantes como a paralisia infantil graças a estas vacinas.



A Libertação Animal defende o fim da sujeição animal para atividades humanas. Erasto foi muito claro numa comunicação da revista espírita de 1861:



"Desse progresso constante, invencível, irrecusável da espécie humana, esse estacionamento indefinido das outras espécies animadas, concluí comigo que, se existem princípios comuns ao que vive e se move sobre a Terra: o sopro e a matéria, não é menos verdadeiro que só vós, Espíritos encarnados, estais submetidos a essa inevitável lei do progresso, que vos impele fatalmente para frente, e sempre para frente. Deus colocou os animais ao vosso lado como auxiliares para vos nutrir, vos vestir, vos secundar. Deu-lhes uma certa dose de inteligência, porque, para vos ajudar, lhes seria necessário compreender, e proporcionou a sua inteligência aos serviços que são chamados a fazer; mas, em sua sabedoria, não quis que


fossem submetidos à mesma lei do progresso; tais foram criados, tais permanecem e permanecerão até a extinção de suas raças".



Os animais foram criados para nos auxiliarem em nosso progresso, devem ser considerados com respeito. Qualquer um que maltrate um animal demonstra claramente ainda ser um espírito inferior, que utiliza de crueldade aos que lhe são inferiores. Esta prática de ser condenada, sempre.



Uma frase me chamou a atenção "Segundo Magnani, da USP, isso ocorre porque por trás de uma corporação há sempre a ideia de lucro, o que contraria a utopia que move os grupos." Utopia segundo o dicionário Aurélio é um projeto irrealizável.


Eu já achava estes grupos radicais, mas os freegans possuem um radicalismo quase hilário. Primeiro rejeitam qualquer controle, não se submetem a nada, é a sociedade do Orgulho, vivem do que outras pessoas descartam, sobras de feira, mora em casas ocupadas e vive de doações.



Baseada no livro Zoologia Geral, de Tracy I. Storer e Robert L. Usinger, posso definir os freegans como verdadeiros parasitos sociais, pois de acordo com o livro: "Um parasito é um organismo que vive sôbre ou no interior de outro, o hospedeiro, obtendo alimento e abrigo à custa dêste. O hospedeiro pode viver sem o parasito, mas êste normalmente não pode viver sem o hospedeiro".


Não são pessoas que buscam desprender-se dos bens materiais, apenas buscam encontrar formas de obtê-los sem esforço, seu orgulho reside na aparente liberdade que possui, pois são muito mais controlados pela sociedade, do que qualquer um outro, pois dela dependem para tudo, como o parasito depende de seu hospedeiro.


Por fim a frase "Incendiar um matadouro ou destruir equipamentos de laboratório é válido, desde que não atinja a integridade física de um ser humano." é um equívoco enorme, pois o que acontece com as pessoas e as famílias que dependiam do matadouro ou do laboratório para sobreviver? A agressão é sempre uma agressão, tenha a justificativa que for. Destruir algo porque não se concorda com o que está sendo feito é se igualar àquele que praticou o erro.


Não são os matadouros ou os laboratórios que são crueis, mas é o ser humano ainda imperfeito e inferior. E é apenas pelo progresso intelectual que se alcançará o progresso moral, como responderam os espíritos na questão 780, do livro O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.



Todas as paixões são alavancas que duplicam as forças do homem e o ajudam a cumprir os desígnios da Providência, mas elas jamais devem controlar o homem, porque isto significa o predomínio da matéria sobre o espírito.



(Comentário por: Claudia Cardamone, psicóloga e espírita. É membro da Equipe Espiritismo.net, atuando nas áreas de atendimento fraterno e notícias.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário