sábado, 12 de novembro de 2016

A Proclamação da República do Brasil e o Espiritismo

A Proclamação da República do Brasil e o Espiritismo
 

Temos neste dia 15 de novembro, o feriado cívico comemorativo da Proclamação da República do Brasil, ocorrida em 1889, quando um levante político-militar instaurou o novo sistema de governo nacional na forma de república federativa presidencialista em substituição ao modelo de monarquia constitucional parlamentarista, mantido pelo Império do Brasil, que tinha como seu monarca D. Pedro II.

Monumento ao líder republicano brasileiro Benjamin Constant
no Campo de Santana (Praça da República no Rio de Janeiro)
Liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca, um grupo militar tomou o Campo de Santana (Praça da República), no Rio de Janeiro, então capital do Império, anunciando a destituição do trono do Imperador e o início do Governo Provisório Republicano, para o qual Deodoro da Fonseca ocuparia a Presidência da República, tendo como vice o Marechal Floriano Peixoto, e Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Campos Sales, Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo Wandenkolk como seus ministros.

"Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto
A queda do Império e a instauração da República ocorreram por diversos fatores. Para começar, havia um descontentamento geral com o governo imperial, especialmente pela gritante divergência social, em que se tinha um povo massacrado pela baixa qualidade de vida e os revoltantes privilégios cedidos pela corte a alguns nobres em nome da soberania nacional.

Mas havia mais: o episódio histórico conhecido como "Questão Religiosa" (entre católicos e maçons) já preconizava a queda de D. Pedro II e seus protegidos, incluindo a Igreja Católica. Nos anos 1870 a Maçonaria ganhava força no meio militar e acadêmico, apavorando o clero católico. Os maçons defendiam novos valores morais e sociais, dentro os quais a tolerância religiosa a outras denominações que não àquela que seguia o Papa de Roma. Eles também patrocinariam o movimento pela libertação dos escravos negros — que viria a ocorrer em 1888.

Foi bem nessa época conturbada da História do Brasil que por aqui aportou o Espiritismo, cuja doutrina vinha ao encontro dos grandes apelos nacionais: reprogramação de valores, como liberdade, justiça e tolerância religiosa. Não por acaso, as ideias espíritas floresceram primordialmente no meio militar e acadêmico — e, portanto, o seio da Maçonaria. Porém, o que a historiografia regular não conta é que a influência da Doutrina Espírita nas campanhas abolicionistas e republicanas foi muito mais forte do que se pode imaginar.


Os nossos livros escolares atuais ignoram o fato de que as ideias kardecistas dariam aos abolicionistas e republicanos uma motivação por demais relevantes, em vista do bem comum nacional, haja vista as degradantes condições de vida das massas — especialmente no caso dos escravos. Além disso, a doutrina codificada por Kardec vinha satisfazer racionalmente o eco misterioso ressoado pelos fenômenos espirituais que se espalhavam nas terras tupiniquins. Manifestações mediúnicas de toda ordem tomavam conta dos noticiários e rodas de conversas.


A historiadora Mary Del Priore descreve em minúcias em seu livro "Do Outro Lado: A História do Sobrenatural e do Espiritismo" (ver resenha aqui) como a versão brasileira das Mesas Girantes se introduziu rapidamente na nossa cultura local e ainda como foi marcante o papel de ativistas espíritas nos acontecimentos políticos e sociais daquela passagem de Império para República. Dentre esses ativistas espíritas, ela destaca personagens como Quintino Bocaiuva (ministro do Governo Provisório Republicano), Ewerton Quadros (um dos fundadores da Federação Espírita Brasileira), Saldanha Marinho (influente advogado, político e grão-mestre maçom), o barão de Porto-Alegre e o Dr. Bezerra de Menezes.

"Se a sociedade da segunda metade do século XIX se queria racional e embalada pelo sonho do progresso em todos os domínios, o sentido do maravilhoso e do sobrenatural continuava, porém, a latejar. No Brasil, mais ainda. O legado das religiões afro e o universo mítico que já envolvia o imaginário dos brasileiros representavam a união entre a modernidade europeia e científica, e a secularização. Os efeitos da ciência moderna estariam em união com a experiência religiosa." (Do Outro Lado: A História do Sobrenatural e do Espiritismo, Mary Del Priore: cap. 4: Os inimigos do além.

Aqueles extraordinários acontecimentos assustavam o povo em geral e ao mesmo os enchia de esperança: enfim, seria os céus protestando contra as injustiças em favor do clamor popular? Não, era mais uma etapa da evolução espiritual da Humanidade se descortinando; era a espiritualidade nos convidando a avançar para a Nova Era. Assim, o Espiritismo vinha contribuir com as reformas de nossa nação.

D. Pedro II,
o imperador destituído do trono

Indiretamente, Allan Kardec e o Espiritismo foram umas das alavancas renovadoras do progresso brasileiro. É bem verdade que a Lei Áurea não foi um primor de programa social, uma vez que os negros alforriados não receberam a assistência necessária para que se integrassem adequadamente ao restante da sociedade. Também a República que sucedeu ao reinado de D. Pedro II não trouxe a tão almejada igualdade social. Contudo, foram dois passos para o progresso, quando já não se fazia sustentável as antigas posições.

Não se pode desprezar a concepção de que, com relação ao processo de transição de governo brasileiro naquele final de século XIX, a influência espírita tenha sido também benéfica para a conservação da tranquilidade geral. Sem provocar derramamento de sangue e sem maiores transtornos, o imperador D. Pedro II aceitou resignado a sua destituição.
De fato, faz parta da essência da Revelação Espírita as transformações sociais e políticas. A evolução dos povos e promoção do bem-estar das nações são consequências naturais que se espera desde quando as pessoas operam em si as reformulações morais. Não dizemos isso em função das transformações regimentais, ou seja, não cabe a Doutrina Espírita levantar a bandeira de um regime de governo ou ideologia política, mas sim erguer alto e firme a bandeira dos princípios éticos — sobretudo a da Caridade —, pois que, onde houver consciências evoluídas, quaisquer que sejam os regimes, haverá progresso; do contrário, onde houver mentes ignorantes e corrompidas, nenhuma instituição conseguirá promover a paz, por mais justas e sábias que sejam suas leis, porque os usurpadores sempre encontrarão uma maneira de burlar a ordem.

Que mais este feriado cívico nos inspire o devido amor à nossa Pátria e ao pensamento estadista, de convicção altruísta, em prol do bem-estar comum, sem perdermos de vista os planos da espiritualidade para fazer do Brasil o coração do mundo e a Pátria do Evangelho, conforme a mensagem de Humberto de campos, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier (ver aqui). E nós, brasileiros e espíritas, mais do que qualquer um, devemos sempre ter em mente a imensa responsabilidade que temos perante essa expectativa dos Espíritos guardiões de nossa Humanidade. Eduquemo-nos para essa honrosa convocação e cuidemos de nosso Brasil.
 

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