domingo, 6 de novembro de 2016

Infertilidade e fertilização assistida - O que isto tem a ver com espiritismo?

Infertilidade e fertilização assistida

O que isto tem a ver com espiritismo?

outubro/2016 - Por Edson G. Tristão
           
Em 25 de julho de 1978, nascia em Bristol, na Inglaterra Louise Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo. O método, idealizado pelo pesquisador britânico Robert Geoffrey Edwards, consiste em fertilizar o óvulo pelo espermatozoide em laboratório, e depois introduzi-lo no útero, para que o embrião se desenvolva. A técnica passou a se chamar FIV (Fertilização In Vitro).
Esse fato assombrou a Humanidade e, ao mesmo tempo, trouxe esperança para milhares de casais que não podiam procriar, e  não são poucos. A Organização Mundial da Saúde relata que de cada cem casais, vinte têm dificuldades para ter filhos.
A Sociedade Europeia de Reprodução Humana e de Embriologia (ESHRE) calcula que já existam, nos dias de hoje, mais de cinco milhões de pessoas que nasceram por essa técnica. Informa também que devem nascer, anualmente, mais de trezentas e cinquenta mil crianças, concebidas pelas diversas técnicas de fertilização assistida.
Enquanto os casais inférteis regozijavam com a possibilidade da procriação, elevaram-se vozes no mundo inteiro chamando atenção quanto às consequências que esses métodos poderiam trazer. A fabricação de embriões não iria favorecer o comércio ilegal desse novo produto? Essa era apenas a primeira de muitas dúvidas que viriam, à medida em que as técnicas fossem se multiplicando. Os questionamentos éticos, culturais, biológicos, psicológicos e religiosos apareceram de todos os lados, chegando inclusive na área jurídica. A multiplicação das técnicas de fertilização assistida teve vários desdobramentos e hoje, em muitos países, é utilizada a doação de material genético, criopreservação de embriões, diagnóstico genético antes da implantação, doação temporária de útero, além das pesquisas em embriões. A norma ética para ser cumprida em todas essas atividades é respeitar a autonomia e o direito reprodutivo dos casais (beneficência), não desrespeitar o embrião, e preocupar-se com os interesses da criança (não-maleficência).
Todos esses mecanismos reprodutivos passam por um questionamento básico: em que momento começa a vida? Karl Ernst Van Baer, biólogo, geólogo, médico e o fundador da embriologia, que viveu na Estônia (Império Russo) entre 1792-1876, afirmava: A vida começa com a fecundação.
O Dr. Keith L. Moore1, autor de renomados compêndios de embriologia, usados na maioria das universidades ensina: O ovo ou zigoto é uma célula resultante da fertilização de um ovócito por um espermatozoide, e é o início de um ser humano.
A Dra. Magdalena Zernicka-Goetz2 , do departamento de neurociências da universidade de Cambridge, publicou na revista Biology, uma das mais conceituadas do mundo, uma Revisão Molecular Celular, concluindo que A vida é um continuum!!! A primeira divisão do zigoto não se dá por acaso mas já define o nosso destino e todas as características que vamos desenvolver. Esta afirmação é importante para a comunidade espírita, pois já nos faz entender a presença do períspirito coordenando esta divisão e multiplicação celular. A matéria não poderia se diferenciar em células especializadas, partindo de uma única célula primitiva, para constituir os vários tecidos e órgãos do corpo físico caso não tivesse uma matriz. Ela é que exerce essa função e foi chamada por Kardec de períspirito. Esse termo tem registrado seu primeiro uso em O Livro dos Espíritos3 :
O laço ou perispírito que une o corpo e o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do envoltório mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, mas que pode se tornar acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede nas aparições.
Qual seria o entendimento do Espiritismo para definir em que momento começa a vida?
Na questão 344, de O Livro dos Espíritos, a resposta é bastante clara: A união começa na concepção (…) Desde o momento da concepção, o Espírito designado para habitar tal corpo a ele se liga por um laço fluídico que vai se apertando cada vez mais, até que a criança nasça.(…)
Estão aí, doutrina espírita e ciência, lado a lado, com a mesma concepção do início da vida humana. Qualquer afirmação, fora desse contexto, deve ser entendida como especulação ou opinião pessoal.
Nesse caso, o embrião passa a ter os mesmos direitos que uma pessoa. É merecedor de todo respeito e deve ser protegido contra qualquer agressão à sua saúde. Uma das maiores dúvidas a respeito da Fertilização In Vitro é a questão do embrião ser produzido em laboratório, podendo ser transferidos para outra pessoa que não a mãe, os cuidados com ele. Ficaria vulnerável, podendo ser descartado, congelado ou utilizado em pesquisas.
Outro dilema é referente ao congelamento dos embriões. Aproximadamente um terço das pacientes produz excesso deles, que acabarão congelados. Isso é feito para possibilitar seleções e transferências no caso de novas gestações. Este ato vai de encontro à dignidade do embrião, pois muitos acabam não sobrevivendo ao processo de congelamento e descongelamento. Eles podem ficar congelados por muitos anos. Há relatos de nascimentos após dez anos de congelamento. A dúvida que muitos têm: Existem espíritos nos embriões congelados?
O períspirito funciona como um modelo organizador biológico e ele deverá estar presente no embrião, para coordenar a diferenciação celular. Caso contrário, a matéria se tornaria um amontoado, sem forma. A situação de cada um, no entanto, pode variar, de acordo com a necessidade ou a evolução.
Para Eurípedes Kuhl4, poderia haver várias possibilidades: a) Espírito voluntário que se ofereceu para o progresso da ciência; b) Semimorto. Padecem de sono pesado, como descrito no livro Nosso Lar5 ; c) Ovoide. Espírito que passou pela segunda morte como relatado no livro Libertação6;  d) em alguns casos, pelo maior desenvolvimento espiritual, o Espírito que está renascendo pode ter graus maiores de liberdade. Dessa forma, ele pode realizar atividades no plano espiritual, enquanto seu corpo estiver congelado. Existe ainda a possibilidade de crianças natimortas, às quais não foram destinadas a encarnação de um Espírito ( questão 356 de O livro dos Espíritos). Conclui-se portanto, que os embriões congelados estão ligados a um Espírito, que pode estar sofrendo pelo uso indevido do seu corpo.
As crianças nascidas por fertilização assistida teriam o mesmo comportamento psicológico daquelas que não nascessem por essa técnica? Existem alguns trabalhos na literatura, dentre eles um realizado na França7 com 422 crianças nascidas por FIV e a idade variando entre 6 a 13 anos. Observou-se rendimento escolar acima da média; 2,2% eram superdotados. Outro foi realizado na China8. Foram avaliados 250 jovens nascidos de embriões congelados, e eles apresentaram mais sociabilidade, maior independência e melhores condições de comunicação. A provável explicação para esses fatos seria o maior grau de atenção e carinho que essas crianças receberam dos pais, além do bom nível socioeconômico desses genitores.
A fertilização assistida também veio contribuir para que os casais homossexuais, através da gestação de substituição (barrigas de aluguel) possam ter seus próprios filhos. Muitas vezes as discussões sobre esses novos modelos familiares geram dúvidas. Não é possível encontrarmos respostas para todas elas. Nesses casos, deve-se lembrar que o amor supera qualquer tipo de reação ou incompreensão.
Em todas essas situações de gravidez, pela via natural ou fertilização assistida, está envolvido ainda o fator psicológico. Ele se transforma em tensão e evolui para depressão quando as coisas não caminham como era esperado. O casal pode enfrentar esse tipo de situação, prestando, por exemplo, trabalhos voluntários em hospitais infantis, creches, orfanatos, evangelização, apadrinhamento de crianças carentes. Atividades como essas favorecem o desbloqueio de centros genésicos, muitas vezes alterados por condutas anteriores desequilibradas, contribuindo para a gravidez.
E quando os filhos não vêm? A convivência sem eles vai testar mais profundamente a maturidade espiritual e psicológica do casal. A decisão também de enfrentar as várias possibilidades da fertilização assistida pode ir de encontro às crenças de cada um, à cultura familiar e meio social.
A família não é somente aqueles que têm laços de sangue. Algumas vezes, o reencontro entre os que estão na Terra e os familiares do plano espiritual pode ocorrer por vias indiretas. O orgulho e egoísmo, ainda presentes em nossos corações, dificultam identificar a situação que pode estar à nossa frente. A adoção sempre poderá ser uma possibilidade, desde que o casal esteja preparado para esse desafio.
É necessário que cada um possa fazer a si próprio uma pergunta: Qual a função dos filhos? Qual o significado da família?
Os filhos são Espíritos, sintonizados conosco nesta ou em outra existência e que agora se aproximam para convivência, de várias formas, a fim de aprimorar seus conhecimentos, emoções e sentimentos. Com toda certeza essa responsabilidade nos será cobrada um dia.
Como ficará o futuro? É possível que se possa nascer através do útero artificial. Ranieri9 relata uma afirmação do saudoso Chico Xavier: A ciência vai desenvolver o ser humano no laboratório. Os cientistas vão fabricar um enorme útero e dentro dele vão gerar o ser. Pode demorar 200 a 400 anos, mas isso vai acontecer. Libertarão finalmente a mulher do parto. 
A doutrina espírita é a favor das novas descobertas. Cobra, no entanto, a ética com os embriões, defende suas vidas e condena o aborto. Esclarece os cientistas sobre a imortalidade, renascimento e o início da vida humana.  É a religião e a ciência caminhando juntos.
 
Referências:
1. MOORE, Keith L. Embriologia Clínica. Elsevier Brasil, 8ª. ed., 2008.
2. ZERNICKA-GOETZ, M. Nature, Review Molecular Cell. Biology, v. 6 (12), 919-928, 2005.
3. Kardec, Allan. O livro dos Espíritos. São Paulo: LAKE, 2012. Introdução, item VI.
4. Khul, Eurípedes. Genética além da Biologia. Belo Horizonte: Fonte Viva, 2003.
5. Xavier, Francisco Cândido. Nosso lar. Pelo Espírito André Luiz. Brasília: FEB, 2009. cap. 27.
6. ______Libertação. Pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FEB, 1971. cap. 6.
7. Folha de São Paulo, 10/02/1996.
8. Lan Feng Xing. Universidade de Ahejiang, 2014.
9. Ranieri. R.A. Chico Xavier, o Santo dos nossos dias. Rio de Janeiro: ECO, 1973.
 
(Fonte: Jornal Mundo Espírita - FEP)

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