sábado, 12 de novembro de 2016

REVISTA ESPIRITA n. 8 - agosto 1863 - PERGUNTAS E PROBLEMAS: Mistificações

REVISTA ESPIRITA
JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
6a ANO NO. 8 AGOSTO 1863
 
PERGUNTAS E PROBLEMAS.
 
Mistificações.

 

Uma carta de Locarno contém a seguinte passagem:
 
".... Para mim a dúvida seria impossível, uma vez que tenho uma filha, muito bom médium, e que meu próprio filho escreve; mas, ai! teve tão cruéis mistificações, que seu desencorajamento me ganhou um pouco, sem, no entanto, abalar nossa crença tão pura e tão consoladora, apesar dos desgostos que se sente quando se vê enganado por respostas falazes. Por que, pois, Deus permite que aqueles que têm boas intenções sejam assim enganados por aqueles que deveriam esclarecê-los?..."
 
Resposta. - O mundo corpóreo se derrama pelo mundo espírita pela morte, e o mundo espírita se derrama no mundo corpóreo pela encarnação, e disso resulta que a população normal do espaço que cerca a Terra se compõe de Espíritos provindos da Humanidade terrestre; essa Humanidade, sendo uma das mais imperfeitas, não pode dar senão produtos imperfeitos; é a razão pela qual os maus Espíritos pululam ao seu redor. Pela mesma razão, nos mundos mais avançados, naqueles onde o bem reina sem partilha, não há senão bons Espíritos. Estando isto admitido, compreender-se-á que a ingerência tão freqüente dos maus Espíritos nas relações medianímicas é inerente à inferioridade de nosso globo; aqui corre-se o risco de ser vítima dos Espíritos enganadores, como num país de ladrões corre-se o risco de ser roubado. Não se poderia também perguntar por que Deus permite que as pessoas honestas sejam despojados pelos gatunos, vítimas da malevolência, alvo de todas as espécies de misérias? Perguntai antes por que estais sobre essa Terra, e vos será respondido que é porque não merecestes uma morada melhor, salvo os Espíritos que aqui estão em missão; é preciso, pois, sofrer-lhes as conseqüências e fazer seus esforços para dela sair o mais cedo possível. À espera disso, é preciso se esforçar por se preservar dos ataques dos maus Espíritos, o que não se chega senão fechando-lhes todas as saídas que poderiam lhes dar acesso em nossa alma, impondo-se-lhes pela superioridade moral, a coragem, a perseverança e uma fé inabalável na proteção de Deus e dos bons Espíritos, no futuro que é tudo, ao passo que o presente não é nada. Mas como ninguém é perfeito sobre a Terra, ninguém pode se gabar, sem orgulho, de estar ao abrigo de suas malícias de maneira absoluta. A pureza das intenções é muito, sem dúvida; é o caminho que conduz à perfeição, mas não é a perfeição, e pode aí ter ainda, no fundo da alma, algum velho fermento; é porque não há um único médium que não haja sido mais ou menos enganado.
A simples razão nos diz que os bons Espíritos não podem fazer senão o bem, de outro modo não seriam bons, e que o mal não pode vir senão dos Espíritos imperfeitos; portanto, as mistificações não podem ser senão o fato de Espíritos levianos ou mentirosos que abusam da credulidade, e freqüentemente exploram o orgulho, a vaidade ou outras paixões. Essas mistificações têm por objetivo pôr à prova a perseverança, a firmeza na fé, e de exercer o julgamento. Se os bons Espíritos as permitem, em certas ocasiões, isso não é por impossibilidade de sua parte, mas para nos deixar o mérito da luta: sendo a mais proveitosa a experiência que se adquire às próprias custas; se a coragem dobra, é uma prova da fraqueza que nos deixa à mercê dos maus Espíritos. Os bons Espíritos velam sobre nós, nos assistem e nos ajudam, mas com a condição de que nos ajudaremos a nós mesmos. O homem está sobre a Terra para a luta, e lhe é preciso vencer para dela sair, senão ele aqui fica.
Infinito e indefinido.
Escrevem-nos de São Petersburgo, a primeiro de julho de 1863:
"... Em O Livro dos Espíritos, livro l, capítulo 1o, no 2, anotei esta proposição: Tudo o que é desconhecido é infinito. Parece-me que muitas coisas nos são desconhecidas sem por isso serem infinitas.      Encontrando-se essa palavra em todas as edições, pedi sua explicação ao meu guia, que me respondeu: "A palavra infinito é aqui um erro; é preciso indefinido." Que pensar disso?...
Resposta. Essas duas palavras, embora sinônimas pelo sentido geral, têm cada uma acepção especial. A Academia as definiu assim:
Indefinido, cujo fim, os limites não podem ser determinados. Tempo indefinido. Número indefinido. Linha indefinida. Espaço indefinido.
Infinito, que não tem começo nem fim, que é sem marco e sem limites. O espaço é infinito. Deus é infinito. A misericórdia de Deus é infinita. Diz-se, por extensão, daquilo em que não se podem assinalar os marcos, o termo, e, por exagero, tanto no sentido físico quanto no sentido moral, de tudo o que é muito considerável em seu gênero. Diz-se particularmente por inumerável. Uma duração Infinita. A beatitude infinita dos eleitos. Dos astros colocados a uma distância infinita. Eu vos sei de uma vontade infinita. Uma infinita variedade de objetos. As penas infinitas. Há um número infinito de autores que escreveram sobre este assunto.
Resulta daí que a palavra indefinido tem o sentido mais particular, e a palavra infinito um sentido mais geral; que o primeiro se diz antes em relação às coisas materiais e o segundo das coisas abstratas: é mais vago do que o outro. O sentido mais geral da palavra infinito permite aplicá-la em certos casos ao que não é senão indefinido, ao passo que o inverso não poderia ocorrer. Diz-se igualmente: uma duração infinita e uma duração indefinida; não se poderia dizer: Deus é indefinido, sua misericórdia é indefinida.
Sob esse ponto de vista, o emprego da palavra infinito na frase precitada não é, pois, abusivo, e não é um erro. Dizemos, além disso, que a palavra indefinido não daria a mesma idéia. Do momento que uma coisa é desconhecida, ela tem para o pensamento o vago do infinito, senão absoluto, pelo menos relativo. Por exemplo, não sabeis o que vos acontecerá amanhã: vosso pensamento erra no infinito; são os acontecimentos que são indefinidos; não sabeis o quanto há de estrelas: é um número indefinido, mas é também o infinito para a imaginação. No caso do qual se trata, convém, pois, empregar a palavra que generalize o pensamento, de preferência à que lhe daria um sentido restrito.

Enviado por: "Joel Silva"

Nenhum comentário:

Postar um comentário