sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão - A026 – Cap. 10 – Programação redentora – Primeira Parte

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A026 – Cap. 10 – Programação redentora – Primeira Parte

 

No desdobramento das tarefas habituais, através das quais eram mantidos os contatos com os Benfei­tores Desencarnados, nas sessões especiais, hebdomadá­rias, recebíamos esclarecimentos e informações, através das quais os irmãos Saturnino e Ambrósio nos davam elucidações minudentes dos acontecimentos transcorridos na Esfera Espiritual, quando dos labores abençoados de que participávamos, conquanto a nossa condição de encarnados no domicílio orgânico.
Dessa forma, inteiramo-nos dos detalhes da opera­ção fraterna junto ao Dr. Teofrastus e a Henriette-Ma­rie, assim como dos fatos precedentes. Obviamente, ao retornarmos ao corpo somático, as lembranças das rea­lizações espirituais desapareciam quase completamente, deixando-nos as evocações em impressões de sonhos que se manifestavam, ora como pesadelos dolorosos, ora como estados de comunhão elevada com as Esferas Superio­res da Vida. Nesse particular, os Instrutores se encar­regavam de ativar ou frenar os centros encarregados das lembranças, de modo a que a nossa jornada humana transcorresse com a normalidade possível, sem proble­mas que nos perturbassem as atividades de servidores da Comunidade dos homens.
A recordação detalhada situar-nos-ia entre os dois mundos, ensejando-nos um desapercebimento das reali­dades do lado físico, propiciando-nos um desvio da aten­ção, que se voltaria para as experiências e realidades da esfera espiritual.
Desde que fora iniciado o processo desobsessivo de Mariana, recebêramos advertência no sentido de man­ter as ligações psíquicas com a Espiritualidade Superior, de modo a nos acautelarmos das ciladas dos Espíritos menos felizes que, surpreendidos pelas incursões que se fariam nos seus domínios, seriam concitados à agres­são por todos os meios possíveis, numa tentativa de obstar o labor abençoado ora em execução.
Considerando as altas responsabilidades que nos di­ziam respeito, buscávamos corresponder à expectativa dos Mentores, esforçando-nos por oferecer, pelo menos, a quota da oração, do pensamento otimista e o espí­rito de abnegação, dedicando-nos ao mister espiritual com alta dose de entusiasmo e fé.
Ao primeiro ensejo, após a entrevista com o ex-Mago de Ruão, o Benfeitor Saturnino elucidou, pela psicofo­nia do médium Morais, que voltaríamos a encontrar-nos, depois de concluídos os trabalhos da noite, quando o Irmão Glaucus conduziria o terrível obsessor, ora em fase de meditação, a uma entrevista naquela Casa, num encontro que estava destinado a definir os rumos fu­turos da sua vida. Concitava-nos ao exercício e men­talização da piedade fraternal, manifestação essencial para a caridade legítima, de que nos deveríamos reves­tir para cooperar ativamente.
Em retornando ao lar, a expectativa do reencontro me inquietava, dificultando-me o necessário repouso. Orando, no entanto, e sentindo a presença dos Irmãos Maiores do Mundo Espiritual, recompusemos a paisagem mental e brando torpor nos invadiu, facilitando às Entidades vigilantes o nosso desdobramento e consequente condução à Sede da nossa Casa de Oração e Amor. Quando ali chegamos, já se encontravam os demais mem­bros participantes das tarefas socorristas.
Saturnino, sempre calmo e gentil, traduziu em sen­tida oração os anseios de todos os presentes e rogou a Jesus fosse Ele o Sublime Visitante e o Condutor dos trabalhos em desdobramento, com vistas à caridade da iluminação de consciências obnubiladas pelo orgulho e pelo egoísmo — esses dois implacáveis inimigos do es­pírito humano!
O  ambiente, à medida que o Benfeitor orava, se foi saturando de perfume discreto, qual lavanda muito leve carreada por suave aragem - Pétalas de luz diáfana co­meçaram a cair, abundantes, e desfaziam-se ao tocar nos circunstantes ou nos diversos móveis e objetos. Vibra­ções muito penetrantes nos impregnavam a todos - E sem que o percebêssemos, as emoções rompiam os diques da visão e fluíam em copiosas lágrimas, no recolhimento em que nos encontrávamos.
Voltando-se para o irmão Petitinga, Saturnino so­licitou:
Leia, meu irmão, o «Livro da Vida».
O  venerando amigo acercou-se da mesa mediúnica e tomou de pequeno livro, irisado de filetes de luz, no qual vimos em tons azul-prateados as letras, em destaque: Novo Testamento.
Abrindo-o ao sabor do momento, embargado pela emotividade superior da hora, José Petitinga leu as ano­tações do apóstolo Marcos, no Capítulo nº 9, versiculos 17 a 29:
«Mestre, eu te trouxe meu filho, que está possesso dum Espírito mudo, e este, onde quer que o apanha, o lança por terra: ele espuma, range os dentes e vai definhando. Roguei a teus discípulos que o espelissem, e eles não puderam. «Disse-lhes Jesus: «Oh, geração incrédula! até quando estarei convosco? até quando vos sofrerei? Tra­zei-mo» Então, lho trouxeram. Ao ver a Jesus, logo o espírito o convulsionou; ele caiu por terra e se estorceu, espumando. Perguntou Jesus ao pai dele: «Há quan­to tempo acontece isto?» Respondeu-lhe: «Desde a infância; e muitas vezes o tem lançado tanto no fogo como na água, para o destruir; mas se podes alguma coisa, compadece-te de nós e ajuda-nos. » Disse-lhe Je­sus: “Se podes! tudo é possível ao que crê.» Imedia­tamente o pai do menino exclamou: «Creio! ajuda a mi­nha incredulidade.» Jesus, vendo que uma multidão afluia, repreendeu o Espírito imundo, dizendo-lhe: «Espírito mudo e surdo, eu te ordeno, saí dele, e nunca mais nele entres.» Gritando e agitando-o muito, saiu; o menino ficou como morto, de maneira que a maior parte do povo dizia: «Morreu. » Jesus, porém, tomando-o pela mão, ergueu-o, e ele ficou em pé. Depois que entrou em casa, perguntaram-lhe seus discípulos particularmente: «Como é que nós não pudemos expulsá-lo?» Respondeu-lhes: — “Esta espécie só pode sair à força de oração.»
Fechando o delicado repositório dos (ditos do Se­nhor», e, inspirado e comovido, José Petitinga, após li­geira pausa, teceu comentários vazados na mais exce­lente conceituação espírita, revivendo os feitos do Mes­tre, naquele momento em que deveríamos, aquinhoados pela mercê do Rabi, concitar à paz e ao arrependimento, um Espírito que, somente «à força da oração», poderia modificar-se.
Silenciava o apóstolo da mensagem espírita em ter­ras baianas no passado, quando deu entrada na sala o irmão Glaucus, que se fazia acompanhar do Dr. Teo­frastus e dos dois guardiães que, com permissão dos Instrutores, ficaram postados à porta do recinto, pelo lado exterior.
A Entidade visitante trazia o semblante velado por singular melancolia, Os olhos antes brilhantes, tradu­zindo estranha ferocidade, se apresentavam baços, e, como se suportasse invisível fardo, caminhava tardo, com características mui diversas daquelas que ostentava até há poucos dias.
Tratado com carinho e respeito pelo venerável Ben­feitor, foi convidado a sentar-se entre nós, na condição de convidado especial.
O  irmão Glaucus, tomando a palavra, falou sucintamente:
Tratamos aqui de dar prosseguimento ao exame dos problemas que dizem respeito a Henriette-Marie e ao seu perseguidor, que agora se encontra recolhido em recinto de Amor, sob guarda de devotados servidores do Bem. Não ignoramos que o irmão Teofrastus foi defrontado por surpresa dolorosa com o resultado da má aplicação do tempo, passando a experimentar desde en­tão as consequências das atitudes espontaneamente to­madas. Sabendo-o ligado por profundos laços de afei­ção à sofredora, que lhe não pôde fruir a companhia nos últimos tempos, consideramos de bom alvitre con­duzi-lo até onde ela se encontrava, de modo a concertar planos em relação ao futuro e sustar, em definitivo, as maquinações da criminalidade até agora em desdobramento.
Mas, no momento — repostou o vingador, visivelmente conturbado —, não poderei aquiescer com quais­quer compromissos que objetivem afastar-me dos muros do meu campo de ação. Estou vinculado a uma pode­rosa Organização, e embora em posição de comando sou, por minha vez, comandado.
Insistimos em elucidar — replicou, seguro e cal­mo, o Benfeitor — que Chefe somente um há: Jesus, o Rei Sublime das nossas vidas, a Quem devemos as dádivas oportunas da evolução e do progresso atual, em nossa nova condição de viandantes da luz. Entre­gando-nos ao Seu comando afável, nenhuma força pos­suirá meios de alcançar-nos, porque sombra alguma, por mais densa, conseguirá suplantar a luz mais insignifi­cante, submetendo-a...
—   Somos, porém — revidou, algo indeciso —, doze Mentes Dominadoras, que nos encontramos submetidos a uma equipe de dez Magistrados que habitam Regiões Infernais, onde os mínimos desvios da Justiça recebem longas punições. Constituímos o grupo dos Doze... Na aplicação do nosso código selecionamos criminosos que alcançam, de nossas mãos, as primeiras correções, após o que são conduzidos para os presídios próprios, nas furnas, onde levantam as construções da Cidade da Fla­gelação... Ligamo-nos por processo mental especiali­zado e frequentemente somos convidados, por nossa vez, à prestação de contas, em minudentes relatórios verbais que são fiscalizados por técnicos competentes e apare­lhos sensíveis. Além disso, as minhas próprias razões me impedem tudo abandonar, para deixar-me arrastar por sentimentalismos mórbidos, renegando à felicidade em que me comprazo, sem conhecer, evidentemente, o que se espera de mim. Tudo me é muito fácil: bastar-me-á arrancar Henriette-Marie da masmorra carnal e retê-la comigo...
—   E olvida o amigo — explicou o irmão Glaucus — que desencarnando a nossa irmã, por constrição obses­siva, ela escapará das vossas mãos, por ter sido apres­sada a sua partida, sem que se possa responsabilizá-la por isso? Ignorais exatamente as «leis de fluídos» e os processos de «sintonia»? Esqueceis-vos de que toda vítima libra acima dos seus algozes? Além disso, consi­deremos que não podemos desprezar a opção do Senhor: isolá-la da vossa interferência por processos que nos es­capam à sagacidade, mas que pertencem à sabedoria.
Sim, não ignoro — aquiesceu —, mas a conjun­tura que se me apresenta é grave... Amo-a, sempre a amei. Na impossibilidade de possuí-la, como privar-me do seu amor?
—  Deixando-vos possuir — redarguiu, ameno, o Ben­feitor. — O amor é concessão que se manifesta com mil faces. Não podendo ser-lhe o esposo, conseguireis ser o amado, no seio materno, na condição de filho da alma e do coração. Fruir-lhe-eis a ternura das mãos e sugareis o leite vital do seu seio. Estareis no calor da sua devoção e os vossos olhos se demorarão mergulhados na luminosidade dos olhos que amam. Permutareis a grande noite da soledade pelo demorado meio-dia da convivência. Transfundireis todo sentimento de amargura em expres­são de dependência e fé. Derramareis o vaso do ódio, que se converterá em adubo de produção, no solo da compre­ensão e da afetividade. Por década de distância, um tempo sem fim de presença, de imorredoura constância.
—  E a lepra? — arguiu.
A lepra de que parece revestida — elucidou o Amigo Espiritual — é enfermidade simulacro, produzida pelas descargas constantes do seu perseguidor desencar­nado. Não desconheceis, amigo Teofrastus, o que conse­guem as forças fluídicas desencadeadas sob o impacto do ódio, e a absorção em longo processo obsessivo das ener­gias deletérias. De mente consumida pela perturbação que a si mesma se vem impondo, através das constantes transgressões às Leis de Justiça, nossa irmã sincronizou com o verdugo que a vítima e, amolentada pelas vibra­ções hipnóticas do seu antagonista, começou a experimen­tar as falsas impressões do Mal de Hansen — conforme desejo do seu inimigo —, sendo atirada ao presídio-hos­pitalar em que vive, em quase total abandono, para que a vindita se coroe da resolução final, que o sicário aguar­dava: o suicídio. Estamos, aliás, informados de que tal plano fora trabalhado pelo próprio amigo Teofrastus, que atenderá à. consulta que lhe formulara o algoz de Hen­riette, em espetáculo, no Anfiteatro, após ouvi-lo, em oca­sião passada, anos atrás...
—  Quê? — Gritou o infortunado. — Então, serei eu, o sabujo que ofereceu ao caçador a pista da destrui­ção da vítima?
—  Sim, meu amigo — afirmou, o prestimoso Men­tor. — Por isso só à Justiça Divina compete os casos da justiça. Disse Jesus: «Vós julgais segundo a carne (ou a aparência), eu a ninguém julgo», por conhecer Ele o nosso ontem e as perspectivas do nosso amanhã. Todo agressor inconsciente cai hoje ou mais tarde nas arma­dilhas da agressão.
E dando nova entonação à voz, que mantinha a se­renidade habitual, mas que se nos afigurava com expres­sões de energia, o irmão Glaucus aduziu:
—  Sob carinhosa assistência de passistas especiali­zados da nossa Esfera, e afastado para tratamento o seu perseguidor, Ana Maria recobrará forças psíquicas e or­gânicas, logo mais, recuperando-se algo rapidamente. A enfermidade regridirá em caráter miraculoso e ela conhe­cerá um pouco de lenitivo e esperança através do braço amigo de alguém que, também, se lhe vincula, disten­dendo na sua direção a aliança nupcial. Mergulhareis, logo após, o amigo Teofrastus e o vosso cômpar, para, no longo caminho a percorrer através da experiência car­nal, tudo recomeçar, refazer, regularizar.
—  E os meus débitos — interrogou — como me se­rão cobrados? Não posso desconhecer a extensão dos meus atos e sei das consequências que eles devem acar­retar.
       — Os nossos erros — referendou o irmão Glaucus — hoje ou mais tarde nos voltam em caráter de necessá­ria reparação. Adiar o reajustamento significa, também, aumentar os gravames que o tempo lhes acrescentará, impondo-nos mais elevada dose de sacrifício. Além disso, não nos cabe a presunção de antecipar o porvir. Entre­gues ao Senhor, o Senhor cuidará de nós, abrindo-nos os depósitos do Seu amor e enriquecendo-nos com as Suas bênçãos múltiplas. Para Ele não há perseguidor nem per­seguido, mas Espíritos enfermos em estados diferentes, caminhando por vias diversas na direção do Bem Infi­nito. Não ignoramos que o mal é somente ausência do bem e que à chegada deste aquele esmaece, porquanto só uma força existe: a do Amor triunfante!

 

QUESTÕES PARA ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL

 

1.     Por que os médiuns não recordavam plenamente dos sonhos enquanto vivências de trabalho no mundo espiritual?
2.     Que tipo de temores Teofrastus teve diante da ideia de renunciar a organização que pertencia no umbral?
3.     Qual seria o planejamento de reencarnação para Teofrastus?
4.     Como entender a “lepra” que Ana Maria (Henriette-Marie) apresentava?

 
        Um abraço a todos!
        Equipe Manoel Philomeno

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