quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Artigo: CONHECIMENTO DO FUTURO E LIVRE ARBÍTRIO

CONHECIMENTO DO FUTURO E LIVRE ARBÍTRIO


Cláudio C. Conti
31/01/2017


O tempo é um tema para muito debate e questionamentos. É comum pensarmos no tempo como passado, presente e futuro sem, com isso, dedicarmos muito atenção do que se trata nem, tampouco, ponderar mais atentamente para o passado e futuro que se estendem de um ponto, o presente, para o infinito, porém, sentidos opostos. 


O que jaz atrás e à frente do presente? Onde foram aqueles momentos vivenciados que, muitas vezes nos trazem lembranças alegres ou tristes, mas que são capazes de causar palpitações no peito? 


Quanto ao futuro? O passado nós já vivemos e não existe mais, enquanto que o futuro também não existe, porém, ainda. 


A sensação é de que o tempo funciona como uma esteira rolante, levando o passado embora e trazendo o futuro? Porém, o futuro é trazido de algum lugar ou surge espontaneamente? 


Com relação ao futuro, Kardec questiona os espíritos na questão 868 de O Livro dos Espíritos: 



Pode o futuro ser revelado ao homem? 

“Em princípio, o futuro lhe é oculto e só em casos raros e excepcionais permite Deus que seja revelado.” 



É difícil de dizer se esta resposta dada pelos espíritos esclarece ou complica ainda mais, pois, somente poderá ser ocultado ou revelado algo que já exista. Ninguém poderá ocultar ou revelar o nada. Assim, pode-se concluir que, de alguma forma, o futuro exista. 


Contudo, ao se considerar que o futuro exista, surge questionamentos acerca da existência do livre arbítrio. Kardec apresenta longa explanação sobre o livre arbítrio em O Livro dos Espíritos: 



872. A questão do livre-arbítrio se pode resumir assim: O homem não é fatalmente levado ao mal; os atos que pratica não foram previamente determinados; os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. Ele pode, por prova e por expiação, escolher uma existência em que seja arrastado ao crime, quer pelo meio onde se ache colocado, quer pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir. Assim, o livre-arbítrio existe para ele, quando no estado de espírito, ao fazer a escolha da existência e das provas e, como encarnado, na faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que todos nos temos voluntariamente submetido



Verifica-se, portanto, que o livre arbítrio existe e também está disponível para o espírito ao longo de sua encarnação, nas escolhas que faz ao longo da experiência carnal. 


Voltamos, deste modo, novamente à questão do tempo. 


O que é o tempo? 


Como esta pergunta ainda é de difícil resposta e na tentativa de tornar o tema mais fácil, podemos nos deter ao presente: O que é o presente? 


Podemos chamar o dia como presente? A hora? O minuto? O segundo? O cronômetro do meu celular mede centésimos de segundo, então o presente seria o milésimo de segundo? 


Talvez o presente seja apenas a linha divisória entre o passado e o futuro. Contudo, se o passado já não existe mais e o futuro ainda está por vir, o que é que o presente divide? 


Esta análise foi desenvolvida pelo filósofo Agostinho de Hipona no livro Confissões, ainda no Século IV.



Kardec torna a abordar o tema no livro A Gênese, Cap. XVI - TEORIA DA PRESCIÊNCIA, e aborda o conhecimento do futuro sob dois aspectos distinto: 1) Resultado de eventos em andamento e; 2) Eventos futuros que não guardam relação com os atuais. 


Com relação aos eventos em andamento, é fácil o entendimento de que a previsão do futuro é decorrente do que se observa, contudo, não é garantia de que realmente o evento previsto irá ocorrer realmente. Kardec entra na questão dos eventos que não guardam relação com os eventos em andamento e diz: 



“Se, agora, sairmos do âmbito das coisas puramente materiais e entrarmos, pelo pensamento, no domínio da vida espiritual, veremos o mesmo fenômeno produzir-se em maior escala. Os Espíritos desmaterializados são como o homem da montanha; o espaço e a duração não existem para eles”. 



Assim, verifica-se que a possibilidade de conhecer o futuro não é a condição de todos os espíritos, pois está diretamente relacionada com elevação espiritual. 


Na questão 27 d’O Livro dos Espíritos, onde Kardec questiona sobre os elementos gerais do universo, a resposta obtida apresenta considerações sobre o fluido cósmico diz que: “Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo (o fluido cósmico) com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais”. 


O capítulo VI, também do livro A Gênese, intitulado Uranografia Geral, Kardec aborda esta e outras questões relacionadas: o espaço e o tempo, a matéria, as leis e as forças, dentre outros. Tanto o tempo, quanto o espaço, forças, etc, são modificações do fluido, portanto, formados por fluido cósmico. 


O fluido cósmico, portanto, apresenta propriedades de expressão distintas da matéria daquela mais comum, a matéria. Assim, o tempo poderia ser considerado como uma expressão do fluido cósmico e, sendo fluido, poderá ser acessado pelo pensamento daqueles que apresentam a possibilidade para tal - os espíritos elevados. Portanto, o futuro pode ser acessado pelo pensamento. 


A nossa percepção de tempo e espaço são formas como o fluido cósmico se expressa e a ação do pensamento sobre este fluido dependerá, obviamente, do nível evolutivo do espírito. 


Livre arbítrio X fatalidade 


Kardec, em sua dissertação sobre o tema deixa o entendimento claro nas passagens extraídas do item 872 de O Livro dos Espírito: 



"…Ele pode, por prova e por expiação, escolher uma existência em que seja arrastado ao crime, quer pelo meio onde se ache colocado, quer pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir. Assim, o livre-arbítrio existe para ele, quando no estado de Espírito, ao fazer a escolha da existência e das provas e, como encarnado, na faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que todos nos temos voluntariamente submetido.” 


"Contudo, a fatalidade não é uma palavra vã. Existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí desempenha, em consequência do gênero de vida que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou missão. Ele sofre fatalmente todas as vicissitudes dessa existência e todas as tendências boas ou más, que lhe são inerentes. Aí, porém, acaba a fatalidade, pois da sua vontade depende ceder ou não a essas tendências. Os pormenores dos acontecimentos, esses ficam subordinados às circunstâncias que ele próprio cria pelos seus atos, sendo que nessas circunstâncias podem os Espíritos influir pelos pensamentos que sugiram.” 


"Há fatalidade, portanto, nos acontecimentos que se apresentam, por serem estes consequência da escolha que o Espírito fez da sua existência de homem. Pode deixar de haver fatalidade no resultado de tais acontecimentos, visto ser possível ao homem, pela sua prudência, modificar-lhes o curso. Nunca há fatalidade nos atos da vida moral."



Cláudio C. Conti
http://www.ccconti.com/Texto10/textos10.htm#continua

31/01/2017

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