terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão - A027 – Cap. 10 – Programação redentora – Segunda Parte


Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A027 – Cap. 10 – Programação redentora – Segunda Parte

 
Aqueles conceitos penetravam-nos a todos, especial­mente no Chefe do Anfiteatro, que se mostrava cada vez mais triste, mais infeliz, não ocultando o sofrimento que o libertava dele mesmo, escravo das paixões séculos a fio.
Levantando-se, sem a soberbia de antes, o Dr. Teo­frastus arremeteu:
—  Mas isto aqui é uma Casa Espírita! Sou uma das Mentes encarregadas de combater a peçonha cristã, que teima em reaparecer com indumentária nova. Detes­temos esses aventureiros do corpo, que se atrevem inva­dir os domínios, que somente pertencem aos mortos.
—  Equivocam-vos, amigo — obtemperou amàvelmen­te o irmão Glaucus. — Não há mortos, e sim vivos. Encar­nados ou desencarnados somos todos Espíritos imortais, transitando numa ou noutra vibração, marchando, porém, na direção da imortalidade. O Cristianismo não teima em aparecer ou reaparecer: não desapareceu nunca, conquan­to as interpolações e desrespeitos de que foi vítima atra­vés dos séculos. Refletindo o pensamento do Cristo é a es­perança dos homens e o pão das vidas. Combatê-lo é en­venenar-se; persegui-lo significa dilatar-lhe os horizontes que se perdem nas fronteiras do Sistema Solar. Vã loucura da ignorância pelejar contra o conhecimento e da estultice investir contra a sabedoria... Jesus vive e vence, meu amigo. É tudo inútil e vós sabeis.
—  Não o sei — replicou, já combalido — mas o sinto. Ele me persegue inexoràvelmente. Não me deixa repousar; tortura-me em cada um a quem torturo; deses­pera-me em todos aqueles nos quais descarrego a minha sanha. Que tem Ele contra mim?
—  Ou que tendes contra Ele? — retrucou o Ben­feitor. — Jesus é o amor inexaurível: não persegue: ama; não tortura: renova; não desespera: apascenta! O amigo Teofrastus, sim, arvorou-se em Seu adversário e sofre as contingências da alucinação e da procrastinação do momento de entregar-se-lhe em total doação. Não te-mais, pois. A verdadeira coragem se manifesta, também, quando o ser reconhece o que é e o que possui, refazendo o caminho por onde deseja seguir, reunindo forças para retemperar o ânimo, e, qual criança, aprender o amor desde as suas primeiras lições.
—  Temo, sou constrangido a confessar.
—  O temor descende da consciência em culpa.
—  Tenho sido a expressão da força e da violência e aprendi a não confiar.
—  Jesus, porém, é a expressão do amor e sua não-violência oferece a confiança que agiganta aqueles que O seguem em extensão de devotamento.
—  Temo, porque creio... E crendo, sofro. Em todo o pelejar, mesmo odiando, nunca O bani da minha mente.
—  Nem poderíeis fazê-lo. O ódio é o amor que en­louqueceu...
—  Nos primeiros dias do século atual fui convocado a abandonar o solo da França para vir aqui operar, tendo em vista a transformação que se realizava neste país, ante o reverdescér do pensamento cristão, amortecido em toda a parte e revivente aqui pelo contacto com a - nossa Esfera de vida. Nosso grupo deveria encarregar-se de sitiar a mediunidade e os novos cruzados do Cristianis­mo, instaurando tribunal de punição e trazendo-os a nos­sos recintos, quando semidesligados pelo sono, para que as visões dos nossos cenários e das nossas operações di­versas pudessem infundir-lhes medo ou sedução, deixando nas suas lembranças as sementes do desejo, no culto do sexo, da ambição, no culto do dinheiro, da prepotência, no culto da vaidade. Em diversas sessões Espíritas, emis­sários nossos têm procurado penetrar, com o objetivo de semear ali a discórdia, multiplicar as suspeitas, irradiar o azedume e difundir a maledicência... E quando as circunstâncias facultam, mantemos o comércio pela in­corporação sutil ou violenta, conforme o paladar da le­viandade dos membros da Colmeia... Sem dúvida que temos conseguido boa colheita, principalmente no campo das agressões morais de vária ordem, em que os falsa-mente bons e os aparentemente honestos oferecem semi­nário favorável para as nossas mudas, que logo medram exuberantes, multiplicando-se facilmente. É evidente que o nosso acesso não se faz em todos os recintos, porque, alertados, muitos se mantêm em atitude de vigilância, coibindo-nos a interferência. Além disso, os seguidores do Cordeiro conseguem dispersar os nossos agentes, uti­lizando-se de processos muito eficientes. Como me pode­rei agasalhar numa Casa que tal? Como me liberarei dos compromissos com aqueles aos quais me encontro vinculado?
—  Ouvimos-vos com atenção — respondeu o Benfei­tor, lúcido e claro. — Embora não fossemos colhidos de surpresa ante o vosso informe, porque conhecíamos as tarefas do irmão Teofrastus, elucidamos-vos que esta Casa dispõe de defesas construídas em muitas décadas de santas realizações, merecendo do Plano Divino carinhosa assistência. Resguardada das forças agressoras, é agasalho e hospedagem abertos aos que sofrem, sob a direção do Cristo. Não há porque considerar compromis­sos senão com a Verdade. Os outros não podem ser de­nominados compromissos, mas conchavos da ignorância, destituídos de qualquer valor, pelos propósitos infelizes de que se revestem. Nossa destinação, meu amigo, é a Verdade. Como Jesus é o Caminho, não mais recalci­tremos.
Todos nos encontrávamos mergulhados na mais co­movente concentração. O duelo verbal entre a impostura e a verdade convincente aclarava-nos o espírito, alargando as percepções em torno da vitória dos altos propósitos e dos superiores desígnios.
A um sinal quase imperceptível, o irmão Saturnino deixara antes o recinto, atendendo à orientação do Ben­feitor Espiritual.
Naquele momento em que o silêncio se fizera natu­ral e quando a Entidade meditava, dominada por com­preensível inquietação do espírito em febre, retornou o Guia Amigo, trazendo, adormecida, qual criança agasa­lhada no afeto paternal, Ana Maria, que foi colocada ca­rinhosamente sobre alvo leito, reservado e vazio no re­cinto, desde o começo da entrevista.
Vendo-a, de inopino, o Dr. Teofrastus foi acometido de angustiante expectativa. O Benfeitor vigilante acal­mou-o com gesto delicado, após o que se aproximou da jovem adormecida e, tocando-lhe as têmporas, despertou-a com voz amiga e confortadora.
A leprosa circunvagou o olhar em torno, e, devida-mente acalmada pelo Instrutor, reconheceu o Dr. Teo­frastus. O olhar adquiriu brilho especial, alongou os bra­ços e, ante a aquiescência do Mentor, o antigo Mago es­treitou-a, com imensa ternura, envolvendo-a em ondas de afetividade e carinho.
—  Quanto esperei por este momento! — aludiu o antigo vingador.
—  Também eu, também eu! — retrucou a sofredora, em lágrimas.
—  Perdoa-me, Henriette...
—  Perdoar-te? Nosso dorido amor é maior do que tudo e por si só anula todas as aflições antigas. Sou eu quem te roga, Teo: ajuda-me e não me abandones mais! Eu sou a esperança quase morta e tu és o hálito do meu reviver. Não me negues a migalha da tua presença, haja o que haja. Levantemo-nos do torpor que nos aniquila a longo prazo e roguemos a Deus que nos resguarde de nós mesmos e nos ajude, a partir de hoje. Não supor­taria mais viver sem ti. Sonho, Teo, isto é um sonho! Estamos numa esfera de sonho em que me apareces des­figurado e triste. Porque demoraste tanto?
—  Perdoa-me! Por mais te buscasse, jamais reen­contrei-te. Não, não nos separaremos mais, nunca mais. Juro! Renunciarei a tudo, para experimentar a ternura das tuas mãos e a meiguice dos teus olhos. Ouve, Hen­riette-Marie, o que te irei falar... Escuta com atenção...
Não pôde prosseguir. O choro convulsivo desatou-lhe nalma e ele recuou, vencido, cambaleante, aos gritos, em atroada desesperadora.
O   Mentor amoroso aproximou-se e exortou-o ao equi­líbrio. Falou-lhe da significação do momento e das pou­cas reservas que possuía Ana Maria, recém-libertada da constrição psíquica do seu antagonista e necessitada de estímulo para aceitar os novos encargos de esposa e não, logo se lhe refizessem os departamentos fisiomentais, com vistas ao futuro. A palavra oportuna ajudou o ator­mentado a recompor-se.
Achegando-se à jovem, em espírito, o irmão Glaucus relatou:
       - Filha, hoje tem início etapa nova na jornada do teu espírito eterno. Embora o passado não esteja morto, todo ele deve ser esquecido. A construção do amanhã tem início agora. Sombras e receios, mágoas -e recrimi­nações devem ser superados e a eles se faz necessário antepor esperança e paz, fé e trabalho na reconstrução da felicidade que tem demorado. Muitas vezes, ou quase sempre, quanto nos ocorre é consequência do que reali­zamos. O nosso teto de albergue deve possuir sem dú­vida segurança e estabilidade para não ruir sobre as nos­sas cabeças. Longo tem sido o teu peregrinar e demo­rado o teu prazo de aflição corretiva. Jesus, porém, que não deseja a «morte do pecador», mas a sua redenção, faculta-nos, a todos, ensejos de resgate luminoso.
Fez uma pausa oportuna. A entidade acompanhava as palavras felizes do Benfeitor, buscando imprimi-las no imo dalma. Após breve silêncio, este prosseguiu:
—  O teu sonho de amor, esperado por largo período de tempo, que agora já passou, se concretizará... O nosso Teofrastus necessita, também, de recomeçar a experiên­cia, a benefício dele mesmo. Entre ambos, porém, medeia o impedimento dos estados em que permanecem. Enquanto, filha, jornadeias no corpo carnal, o nosso ami­go se encontra libertado dos fluídos fisiológicos. Ante, pois, a impossibilidade de uma comunhão matrimonial que a vida lhes não pode oferecer de momento, solicita­mos que lhe ofertes a intimidade orgânica para que ele recomece o caminho, na condição de filho da tua devo­ção e do teu carinho...
Ana Maria, sacudida por impulso inesperado, ajoe­lhou-se e, abrindo os braços, balbuciou:
—  Que se faça a vontade de Deus!
O   irmão Glaucus, utilizando-se da expressiva oca­sião, prosseguiu:
—  Tu, porém, filha, deverás oferecer ensejo a ou­tro ser que ama e padece, esperando compreensão e pie­dade. Trata-se de Jean Villemain, o infeliz sacerdote que, no pretérito, desencadeou todas estas aflições...
—  A ele, eu me recuso ajudar —, replicou a jo­vem. — Odeio-o com todas as forças. Como lhe pode­ria ser mãe?
—  O ódio, filha — considerou o Benfeitor —, somente desaparece na pira do sacrifício do amor. É certo que ele te fez sofrer em demasia; no entanto, a tua fe­licidade que agora tem início é, de certo modo, facul­tada porque ele te libera dos vínculos da rebeldia com os quais se ata a ti. Afastado para tratamento, senti­rás o benefício da saúde e da paz em retorno. Negar-lhe-ás a sublime oferta do recomeço, que a ti a Mise­ricórdia Divina, por sua vez, está concedendo? O teu seio, transformado em santuário maternal, receberá o amigo e o adversário e os terás como filhos diletos na forja do lar, sofrendo e amando, ajudando-os recíproca­mente para que transformem os floretes do duelo em arados do amanho ao solo da esperança, em cujos sul­cos sejam depositadas as sementes da paz.
A voz do Instrutor traía a emoção que o visitava. Como se recordasse serem os homens da Terra todos vítimas das paixões dissolventes, retomou a palavra e acentuou:
—  Jesus, embora nossa ingratidão, continua aman­do-nos. Quando na Cruz, conquanto escarnecido, esteve amando, e agora, apesar de propositadamente ignorado por milhões de seres, prossegue amando. Sigamos-Lhe, filha, o exemplo, e transformemo-nos em célula de amor, a fim de que as nossas construções se assentem em ali­cerces de segurança.
Ana Maria, em lágrimas, fitou o antigo afeto, que permanecia atoleimado, e, inspirada pelas forças supe­riores que saturavam o recinto, concordou:
Se o meu amor pode beneficiar o Teo e a mi­nha recusa a Jean pode ser fator de insucesso, em ho­menagem ao Amor de todos os Amores, aceito-o, tam­bém, como filho, e que Deus tenha piedade de nós...
O irmão Glaucus enlaçou a jovem mulher em terno abraço, e, tomando o Dr. Teofrastus no mesmo envol­vente gesto, rogou ao Senhor que os abençoasse, feli­citando-os com a concessão da união espiritual.
A jovem foi reconduzida de volta ao corpo, no La­zareto.
Depois de mais alguns estudos sobre a nova con­dição do irmão Teofrastus, este aproximou-se da porta e despediu os dois guardas, ficando combinado que ele se demoraria naquela Casa sob os auspícios dos Instrü­tores, até o momento em que seria encaminhado a uma Colônia preparatória para. a reencarnação futura, mes­mo porque outros trâmites no processo da desobsessão de Mariana requereriam sua presença.
Ante os sucessos daquela madrugada, o irmão Glaucus, sensivelmente comovido, orou a Jesus, em gra­tidão, e os trabalhos foram encerrados, depois do que, fomos reconduzidos ao lar.

 

QUESTÕES PARA ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL

 

1.     Como podemos entender a presença de Jesus junto a Teofrastus que perseguia centros espíritas?

2.     Como Teofrastus em sua organização atuava junto a casa espírita?

3.     Ana Maria receberia como filhos tanto Teofrastus que amou, como um antigo perseguidor. Qual a importância da família para a redenção do Espírito imortal de acordo com a Doutrina Espírita?

 
Um abraço a todos!
Equipe Manoel Philomeno

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