quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Revista Espírita - Dezembro 1863 - São Paulo, precursor do Espiritismo


REVISTA ESPIRITA

JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS

DEZEMBRO 1863

 

SÃO PAULO, PRECURSOR DO ESPIRITISMO.

 

A comunicação seguinte foi obtida na sessão da Sociedade de Paris, de 9 de outubro de 1863:

"Quantos dias se escoaram desde que tive a felicidade de me entreter convosco, meus muito queridos filhos! Também, é com uma muito doce satisfação que me reencontro no meio de minha cara Sociedade de Paris.

"Do que vos entreterei hoje? A maioria das questões morais foram tratadas por penas hábeis; no entanto, elas são de tal modo de meu domínio e seu campo é tão vasto, que encontrarei ainda alguns grãos de verdade a respigar. De resto, quando bem mesmo não fizer senão tornar a dizer o que outros já vos disseram, disso ressaltará talvez alguns novos ensinamentos, porque as boas palavras, como as boas sementes, trazem sempre seus frutos.

"Os livros santos são para nós celeiros inesgotáveis, e o grande apóstolo Paulo, que outrora tanto contribuiu para o estabelecimento do Cristianismo pela sua poderosa pregação, vos deixou monumentos escritos, que servirão não menos energicamente ao desabrochamento do Espiritismo. Não ignoro que vossos adversários religiosos invocam seu testemunho contra vós; mas isto não impede que o ilustre iluminado de Damasco não seja por vós e convosco, disto ficai bem convencidos. O sopro que corre em suas epístolas, a inspiração santa que anima seus ensinos, longe de ser hostil à vossa doutrina, é, ao contrário, cheia de singulares previsões tendo em vista o que ocorre hoje. É assim que, em sua primeira aos Coríntios, ensina que sem a Caridade não existe nenhum homem, fosse ele santo, fosse profeta, transportasse montanhas, que possa se gabar de ser um verdadeiro discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como os Espíritas, e antes dos Espíritas, foi ele quem proclamou primeiro esta máxima que faz a vossa glória: Fora da caridade não há salvação! Mas este não é o único lado que se liga à Doutrina que nós vos ensinamos e que propagais hoje. Com essa alta inteligência que lhe era própria, previu o que Deus reservava ao futuro, e notadamente essa transformação, essa regeneração da fé cristã, que sois chamados a assentar profundamente no espírito moderno, uma vez que descreve na epístola já citada, e de maneira indiscutível, as principais faculdades medianímicas que chama os dons benditos do Espírito Santo.

"Ah! meus filhos, esse santo doutor contempla, com uma amargura que não pode dissimular o grau de aviltamento em que caiu a maioria daqueles que falam em seu nome, e que proclamam, urbe et orbi, que Deus outrora deu à Terra toda a soma de virtudes que esta era capaz de receber. E, no entanto, o apóstolo proclamava que, em seu tempo, não havia senão uma ciência e senão profecias imperfeitas. Ora, aquele que se lamentava dessa situação sabia, por isso mesmo, que essa ciência e essas profecias se aperfeiçoarão um dia. Não está aí a condenação absoluta de todos aqueles que condenam o progresso? Não está aí o mais duro revés para aqueles que pretendem que o Cristo e os apóstolos, os Pais da Igreja, e sobretudo os reverendos casuístas da Companhia de Jesus, deram à Terra toda a ciência religiosa à qual essa tinha direito? Felizmente o próprio apóstolo tomou o cuidado de desmenti-los antecipadamente.

"Meus caros filhos, para apreciar com seu valor os homens que vos combatem, não tendes senão que estudar os argumentos de sua polêmica, suas palavras acerbas e os desgostos que testemunham, como o Rev. Pé. Pailloux, que as fogueiras estão extintas, e que a Santa Inquisição não funciona mais ad majorem Dei glorian. Meus irmãos, tendes a caridade, eles têm a intolerância: são, pois, muito a lamentar; é porque vos convido a orar por esses pobres desviados, a fim de que o Espírito Santo, que eles invocam tão frequentemente, se digne, enfim, esclarecer sua consciência e seu coração."

FRANÇOISNICOLAS MADELEINE.

A esta notável comunicação acrescentamos as palavras seguintes de São Paulo, tiradas da primeira epístola aos Coríntios:

"Mas alguém me dirá: Em que maneira os mortos ressuscitarão, e qual será o corpo no qual eles retornarão?  Insensatos que sois! não vedes que o que semeais não retorna mais da vida, se não se move antes? e quando semeais, não semeais o corpo da planta que deve nascer, mas somente o grão, como do trigo ou de qualquer outra coisa. Depois de que Deus lhe dá um corpo tal que lhe agrade, e dá a cada semente o corpo que é próprio a cada planta. Toda carne não é a mesma carne; mas outra é a carne dos homens, outra a carne dos animais, outra a dos pássaros, outra a dos peixes.

"Há também corpos celestes e corpos terrestres; mas os corpos celestes têm um outro brilho do que os corpos terrestres. O Sol tem seu brilho, que difere do brilho da Lua, como o brilho da Lua difere do brilho das estrelas, e, entre as estrelas, uma é mais brilhante do que a outra.

"Ocorrerá o mesmo na ressurreição dos mortos. O corpo, como uma semente, é agora colocado na terra cheia de corrupção, e ressuscitará incorruptível. É posto na terra todo disforme, e ressuscitará todo glorioso. Ele é posto na terra privado de movimento, e ressuscitará cheio de vigor. Ele é posto na terra como um corpo animal e ressuscitará como um corpo espiritual. Como há um corpo animal, há um corpo espiritual.

"Quero dizer, meus irmãos, que a carne e o sangue não podem possuir o reino de Deusr e que a corrupção não possuirá essa herança incorruptível. (São Paulo, 1ª Ep. aos Coríntios, cap. XV, v. de 35 a 44 e 50.)

Que pode ser este corpo espiritual, que não é o corpo animal, senão o corpo fluídico do qual o Espiritismo demonstra a existência, o perispírito do qual a alma é revestida depois da morte? Na morte do corpo, o Espírito entra em perturbação; ele perde por um instante a consciência de si mesmo; depois recobra o uso de suas faculdades, renasce na vida inteligente, em uma palavra, ele ressuscita com seu corpo espiritual.

O último parágrafo, relativo ao julgamento final, contradiz positivamente a doutrina da ressurreição da carne, uma vez que disse: "A carne e o sangue não podem possuir o reino de Deus." Os mortos não ressuscitarão, pois, com sua carne e seu sangue, e não terão necessidade de juntar seus ossos dispersos, mas terão seu corpo celeste, que não é o corpo animal. Se o autor do Catecismo filosófico tivesse bem meditado o sentido de suas palavras, teria podido se dispensar de fazer o sábio cálculo matemático ao qual se entregou, para provar que todos os homens mortos desde Adão, ressuscitarão em carne e osso, com seu próprio corpo, poderiam perfeitamente estar no vale de Josafá, sem estarem muito incomodados (1(1) Catecismo filosófico, pelo abade de Feller, t. III, p. 83.)

São Paulo, pois, colocou em princípio e em teoria o que ensina hoje o Espiritismo sobre o estado do homem depois da morte.

Mas São Paulo não foi o único que pressentiu as verdades ensinadas pelo Espiritismo; a Bíblia, os Evangelhos, os apóstolos e os Pais da Igreja delas estão cheios, de sorte que condenar o Espiritismo é desautorizar as próprias autoridades sobre as quais se apoia a religião. Atribuir todos esses ensinos ao demônio é lançar o mesmo anátema sobre a maioria dos autores sagrados. O Espiritismo não vem, pois, destruir, mas, ao contrário, restabelecer todas as coisas, quer dizer, restituir a cada coisa o seu verdadeiro sentido.

 

 

Enviado por: "Joel Silva"

 

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