terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Revista Espírita - Dezembro 1863 - Elias e João Batista: refutação


REVISTA ESPIRITA

JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS

DEZEMBRO 1863

 

ELIAS E JOÃO BATISTA.

Refutação.

 

Isto dito, vamos tentar dar ao Sr., o cura citado mais acima, a resposta à pergunta que propôs. Todavia, não podemos nos impedir de notar que se seu interlocutor não era tão forte quanto ele em teologia, ele mesmo não parecia muito forte sobre o Evangelho. Sua questão retorna àquela que foi posta a Jesus pelos Saduceus; não tinha, pois, senão que se referir à resposta de Jesus, que tomamos a liberdade de lembrar-lhe, uma vez que não a sabe.

"Naquele dia, os Saduceus, que negam a ressurreição, vieram encontra-lo e lhe propuseram uma questão, dizendo-lhe: "Mestre, Moisés ordenou que se alguém morresse sem filhos, seu irmão esposasse sua mulher, e suscitasse filhos ao seu irmão morto. Ora, havia entre nós sete irmãos, dos quais o primeiro, tendo esposado uma mulher, morreu; e não tendo tido filhos, deixou sua mulher ao seu irmão. A mesma coisa ocorreu ao segundo, ao terceiro e a todos os outros até o sétimo. Enfim, essa mulher morreu depois deles todos. Então, pois, que a ressurreição chegue, do qual desses sete seria mulher, uma vez que o foi de todos?

"Jesus lhes respondeu: "Estais no erro, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus; porque depois da ressurreição os homens não terão mulher, nem as mulheres marido; mas serão como OS ANJOS DE DEUS NO CÉU. E pelo que é da ressurreição dos mortos, não lestes estas palavras que Deus vos disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos."(São Mateus, cap. XXII, v. de 23 a 32.)

Uma vez que, depois da ressurreição, os homens serão como os anjos do céu, e que os anjos não têm corpo carnal, mas um corpo etéreo e fluídico, os homens não ressuscitarão, pois, não mais em carne e osso. Se João Batista foi Elias, não é senão uma mesma alma tendo tido duas vestes deixadas em duas épocas diferentes sobre a Terra, e que não se, apresentará nem com uma nem com a outra, mas com o envoltório etéreo próprio ao mundo invisível. Se as palavras de Jesus não vos parecem bastante claras, lede as de São Paulo (que reportamos adiante na página 372), elas são ainda mais explícitas. Duvidais de que João Batista foi Elias? Lede São Mateus, cap. XI, v. 13, 14, 15: "Porque até João, todos os profetas, tão bem quanto a lei, profetizaram; e se quereis compreender o que vos digo, é ele mesmo que é esse Elias que deve vir. Que ouça aquele que tem ouvidos para ouvir." Aqui não há nenhum equívoco; os termos são claros e categóricos, e para não ouvir é necessário não ter ouvidos, ou querer fechá-los. Sendo estas palavras uma afirmação positiva, de duas coisas uma: Jesus disse a verdade, ou está enganado. Na primeira hipótese, é a reencarnação atestada por ele; na segunda, é a dúvida lançada sobre todos os seus ensinamentos, porque se está enganado sobre um ponto, pode se enganar sobre os outros; escolhei.

Agora, senhor cura, permiti que, ao meu turno, vos dirija uma pergunta, à qual, sem dúvida, vos será fácil responder.

Sabeis que a Gênese, assinalando seis dias para a criação, não só da Terra, mas do Universo inteiro: sol, estrelas, lua, etc., havia contado sem a geologia e a astronomia; que Josué havia contado sem a lei da gravidade universal; parece-me que o dogma da ressurreição da carne contou sem a química. E verdade que a química é uma ciência diabólica, como todas as que fazem ver claro ali onde se gostaria que se visse perturbação; mas, embora isso seja de sua origem, ela nos ensina uma coisa positiva, é que o corpo do homem, do mesmo modo que todas as substâncias orgânicas animais e vegetais, é composto de elementos diversos dos quais os princípios são: o oxigênio, o hidrogênio, o azoto e o carbono. Ela nos ensina ainda,  e notai que é um resultado da experiência,  que na morte esses elementos se dispersam e entram na composição de outros corpos, se bem que, ao cabo de um tempo dado, o corpo inteiro é absorvido. Está ainda constatado que o terreno que tem em abundância as matérias animais em decomposição são os mais férteis, e é na vizinhança dos cemitérios que os ímpios atribuem a fecundidade proverbial dos jardins dos Srs. curas do campo. Suponhamos, pois, senhor cura, que as batatas inglesas sejam plantadas na vizinhança de uma fossa; essas batatas inglesas vão se alimentar dos gases e dos sais provenientes da decomposição do corpo morto; essas batatas inglesas vão servir para engordar as galinhas; essas galinhas, vós as comereis, as saboreareis; de tal sorte de que vosso próprio corpo será formado de moléculas do corpo do indivíduo que está morto, e que isso não será menos dele embora tendo passado por intermediários. Teríeis, pois, em vós, partes que pertenceram a um outro. Ora, quando ressuscitardes ambos no dia do julgamento, cada um com vosso corpo, como fareis? Guardareis o que tendes de outro, ou o outro vos retomará o que lhe pertence, ou bem ainda teríeis alguma coisa da batata inglesa ou da galinha? Questão pelo menos tão séria quanto aquela de saber se João Batista ressuscitará com o corpo de João ou de Elias. Coloco-a em sua maior simplicidade, mas julgai do embaraço se, como isto é certo, tiverdes em vós as porções de cem indivíduos. Está aí, propriamente falando, a ressurreição da carne; mas diferente é a do Espírito, que não leva seu despojo com ele. Vede, adiante, o que disse São Paulo.

 

Enviado por: "Joel Silva"

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