domingo, 14 de maio de 2017

REVISTA ESPIRITA - 2 FEVEREIRO 1864 - UM DRAMA INTIMO (2)

REVISTA ESPIRITA JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
7 a ANO NO. 2 FEVEREIRO 1864
 
UM DRAMA INTIMO.
Apreciação moral.
 
Examinando-se a coisa do ponto de vista puramente mundano, a maioria ali não verá senão a conseqüência muito natural de uma união desproporcionada, e lançarão ao velho a pedra do ridículo por todo discurso fúnebre; outros acusarão de ingratidão a jovem que enganou a confiança do homem generoso que queria enriquecê-la; mas ela tem para o Espírita um lado mais sério, porque nela procura um ensinamento. Nós nos perguntaremos, pois, se na ação do velho não havia mais egoísmo do que generosidade a prender uma jovem, quase uma criança, à sua caducidade pelos laços indissolúveis que podem conduzi-la à idade onde antes deve-se sonhar na retirada que em gozar do mundo? se, impondo-lhe esse duro sacrifício, isso não era lhe fazer pagar bem caro a fortuna que lhe prometia? Quanto à jovem, não podia aceitar esses laços senão com a perspectiva de vê-los logo quebrados, uma vez que nenhum motivo de afeição a ligava ao velho. Havia, pois, cálculo dos dois lados e esse cálculo foi frustrado; Deus não permitiu que dele aproveitassem nem um nem o outro: a um infligiu a desilusão, ao outro a vergonha, que mataram a ambos.
Resta a responsabilidade do suicídio, que jamais é impune, mas que encontra sempre circunstâncias atenuantes. A mãe da jovem, para encorajá-la a aceitar, lhe havia dito:
"Com essa grande fortuna farás a felicidade do homem pobre que amarás. À espera disso, honra e respeita esse grande coração que quis te instituir sua herdeira, durante o que lhe resta de vida." Era tomá-la por seu lado sensível; mas para gozar os benefícios desse grande coração, que teria sido muito grande de outro modo se a tivesse dotado sem interesse, seria preciso especular sobre a duração de sua vida. A filha errou em ceder, mas a mãe teve um erro maior em excitá-la, e, seguramente, é ela que incorrerá na maior parte da responsabilidade do suicídio de sua filha. É assim que aquele que se mata para escapar à miséria é culpado de falta de coragem e de resignação, mas muito mais culpável ainda é aquele que é a causa primeira desse ato de desespero. Eis o que o Espiritismo ensina pelos exemplos que se coloca sob os olhos daqueles que estudam o mundo invisível. Quanto à mãe, sua punição começa nesta vida, primeiro pela morte terrível de sua filha, cuja imagem talvez irá persegui-la e atormentá-la de remorsos, em seguida pela inutilidade para ela do sacrifício que provocou, porque tendo o marido morrido seis horas depois de sua mulher, toda a sua fortuna torna aos colaterais distantes, e ela não a aproveitará.
Os jornais estão cheios de fatos de todos os gêneros, louváveis ou censuráveis, que podem oferecer, como o que acabamos de reportar, o assunto de estudos morais sérios; é para os Espíritas uma mina inesgotável de observações e de instruções. O Espiritismo lhes dá os meios de ali descobrir o que passa desapercebido para os indiferentes, e ainda mais para os céticos que nisso não vêem, geralmente, senão o fato mais ou menos picante, sem procurar-lhe nem as causas nem as conseqüências. Para os grupos, é um elemento fecundo de trabalho, no qual os Espíritos protetores não deixarão de ajudar, dando-lhe a sua apreciação.
 


Enviado por: "Joel Silva"

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