domingo, 14 de maio de 2017

REVISTA ESPÍRITA - 2 fevereiro 1864 - UM DRAMA ÍNTIMO (1)

UM DRAMA INTIMO.
Apreciação moral.
 
O Monde ilustre de 7 de fevereiro de 1863 conta o drama de família seguinte, que emocionou, a justo título, a sociedade de Florence. O autor começa assim a sua narração:
"Eis a história. Ele era um velho de setenta e dois anos; ela, uma jovem de vinte anos. Havia-a esposado há três anos... Não vos revolteis! o velho conde, originário de Viterbe, era absolutamente sem família, o que é muito estranho para um milionário! Amália não era sem família, mas antes sem milhões. Para compensar as coisas, tendo-a visto quase nascer, e sabendo-a de um bom coração e de um encantador espírito, havia dito à sua mãe: "Deixai-me paternalmente esposar Amália; durante alguns anos ela cuidará de mim, e depois..."
"O casamento se fez. Amália compreende os seus deveres; ela cerca o velho dos cuidados mais assíduos, e lhe sacrifica todos os prazeres de sua idade. O conde tendo se tornado cego e um pouco paralítico, passava as mais longas horas do dia fazendo-lhe companhia, fazendo-lhe leituras, a contar tudo o que podia para distraí-lo e encantá-lo.
"Quanto sois boa, minha querida criança!" exclamava freqüentemente tomando-lhe as mãos, e atraindo-a para lhe pôr sobre a fronte o casto e doce beijo da ternura e do reconhecimento.
"Um dia, no entanto, notou que Amália se afastava de sua pessoa; que, embora sempre assídua e cheia de solicitude, ela parecia temer sentar-se perto dele. Uma suspeita atravessou o seu espírito. Uma noite quando ela fazia a leitura, ele tomou-lhe o braço, atraiu-a, enlaçou seu corpo; então, lançando um grito terrível, caiu desmaiado de emoção e de cólera aos pés da jovem! Amália perdeu a cabeça; lançou-se na escada, chegando ao andar mais elevado da casa, precipitou-se pela janela e caiu despedaçada. O velho não sobreviveu senão seis horas a essa catástrofe."
Que relação, dir-se-á, essa história pode ter com o Espiritismo? Vê-se aí a intervenção de algum espírito maligno? Essas relações estão nas deduções que o Espiritismo pode ensinar a tirar das coisas em aparência mais vulgares da vida. Quando o cético ou o
indiferente não vê num fato senão uma ocasião de exercer sua verve zombeteira, ou passar ao lado sem notá-lo, o Espírita observa-o e dele tira uma instrução remontando às causas providenciais, sondando-lhe as conseqüências para a vida futura, segundo os exemplos que as relações de além-túmulo lhe oferecem da justiça de Deus. No fato reportado acima, em lugar de uma simples historinha divertida entre um velho e uma jovem, ele vê duas vítimas; ora, como o interesse que leva aos infelizes não se detém no limiar da vida presente, mas os segue na vida futura, na qual tem fé, se pergunta se não há ali um duplo castigo para uma dupla falta, e se ambos não foram punidos por onde pecaram? Vê um suicídio, e como sabe que esse crime é sempre punido, pergunta-se em qual grau de responsabilidade incorre aquele que o cometeu.
Vós que credes que o Espiritismo não se ocupa senão de duendes, de aparições fantásticas, de mesas girantes e de Espíritos batedores, se vos derdes ao trabalho de estudá-lo sabereis que ele toca a todas as questões morais. Esses Espíritos que vos parecem tão risíveis, e que, no entanto, não são outros senão as almas dos homens, dão àquele que observa suas manifestações a prova de que é ele mesmo Espírito, momentaneamente ligado a um corpo; vê na morte, não o fim da vida, mas a porta da prisão que se abre diante do prisioneiro para restituí-lo à liberdade. Ensina que as vicissitudes da vida corpórea são as conseqüências das próprias imperfeições, quer dizer, das inspirações pelo passado e o presente, e provas para o futuro. Daí é naturalmente conduzido a não ver o cego acaso nesses acontecimentos, mas a mão da Providência. Para ele a equitativa sentença: A cada um segundo suas obras não encontra somente sua aplicação para além do túmulo, mas também sobre a própria Terra. E porque tudo o que se passa ao redor dele tem o seu valor, sua razão de ser; ele estuda para disso tirar seu proveito e regular sua conduta em vista do futuro, que para ele é uma realidade demonstrada. Remontando às causas das infelicidades que o afligem, ensina a não mais disso acusar a sorte ou a fatalidade, mas a si mesmo.
Não tendo esta digressão outro objetivo senão demonstrar que o Espiritismo se ocupa de outra coisa que dos Espíritos batedores, retornemos ao nosso assunto. Uma vez que o fato se tornou público, é permitido apreciá-lo, tanto melhor quando não designamos a ninguém nominalmente.
(continua... )


Enviado por: "Joel Silva"

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