domingo, 1 de março de 2009

Vida unplugged

Vida unplugged

Depois de uma temporada em Tóquio e Londres, duas das cidades mais tech do mundo, nossa repórter topou o desafio de passar 30 dias desconectada em São Paulo. Saiba o que ela aprendeu com a experiência
Paula Sato

"Pessoal:A partir da terça-feira, dia 4 de novembro, vou iniciar uma experiência de autoconhecimento e passar um mês offline. O que significa 30 dias sem me comunicar com ninguém por internet, celular ou qualquer coisa do tipo. Mas, calma, eu não estou louca, nem voltei da Europa com ideias esquisitas. Isso é parte de uma reportagem que estou fazendo. Mas acho que vai ser bem legal para eu ver o quanto sou dependente dessas coisas e se é possível me livrar delas. Eu só peço que vocês não se esqueçam de mim durante esse tempo. Não é porque estarei offline no Messenger e sem nenhum update no Facebook que eu vou deixar de existir."
REGRAS
>>> Nada de internet
>>> Celular desligado
>>> Não ligar para o celular de outras pessoas, só para o telefone fixo
>>> Não usar cartões de débito ou crédito
>>> Não usar o caixa eletrônico do banco
>>> Videogame, sim; jogos online, não
>>> Pay-per-view na TV está proibido
>>> iPod, ok, mas sem músicas baixadas da internet
>>> Computador só como máquina de escrever
Foi com a mensagem da abertura desta reportagem que me despedi da web e dei a notícia a todos os meus amigos e "contatos de e-mail" de que estava iniciando o desafio de viver offline. A ideia era descobrir se era possível ficar desconectada em um mundo cada vez mais "plugado". Algo ainda mais difícil para alguém que há menos de um mês havia voltado de uma passagem de dois anos por Londres e Tóquio, onde eu não saía de casa sem usar a internet do celular para checar o horário dos trens, a previsão do tempo e o horóscopo, além de sempre contar com a ajuda do GPS (no telefone) para me localizar.

A princípio, essa me pareceu uma tarefa impossível - tanto que, quando recebi o desafio do pessoal de Galileu, pedi um tempo para pensar. Passei um final de semana inteiro avaliando o quanto eu era dependente da internet, do celular e de todos os meus outros gadgets. De repente, percebi que passava pelo menos 12 horas por dia online e 24 horas grudada nos meus dois aparelhos de celular. Também lembrei que, desde que tenho uns 13 ou 14 anos, sempre estive conectada na internet e até já conheci namorados por blogs e chats. Comecei a achar que usava o computador mais do que deveria e que parar por algum tempo poderia ser bom - ainda que fosse no mesmo esquema de quem deixa de fumar uma semana só para se convencer de que consegue parar. Mas, apesar da minha boa vontade, será que o mundo lá fora ainda recebe com simpatia alguém avesso à tecnologia?Precisava de algum tempo para me preparar e me acostumar com a ideia. Depois de repetir várias vezes para mim mesma que, não, eu não morreria nem entraria em depressão só porque ia passar um tempo sem atualizar meu blog nem mudar meu status no Facebook, acabei me convencendo de que a experiência poderia ser bem produtiva. Nunca fui adepta de nenhuma religião, mas me livrar dessa obsessão pela vida online poderia ser como um exercício zen de autoconhecimento.

Mas, como sempre acontece com certas resoluções de vida, a próxima etapa seria convencer os outros de que essa experiência não era sem sentido. Teria de sobreviver ao julgamento alheio. A recepção foi pior do que eu imaginava. Mais de dez amigos responderam ao meu e-mail me desejando pêsames, dizendo que eu não conseguiria viver sem internet e lamentando que eu iria "sumir" durante um mês. Mas, peraí, eu não estava sumindo, já que continuava morando no mesmo lugar e com o mesmo telefone fixo - será que para algumas pessoas eu só existia enquanto avatar do Orkut? Com os contatos profissionais, tomei um certo cuidado na hora de falar o que eu iria fazer. Prometi que não deixaria de produzir nenhum dos trabalhos com os quais já havia me comprometido e que entregaria tudo no prazo. Até que deu certo. Peguei pautas realizáveis por telefone e me preparei para apurar todas as informações sem usar a internet.

Outra etapa fundamental na preparação foi comprar uma agendinha de telefones para carregar na bolsa e anotar os números fixos de todo mundo. Mas aí apareceu um problema. Algumas pessoas responderam ao meu e-mail mandando um número de celular (será que não entenderam o que eu disse?), e outras disseram que não tinham mais telefone fixo. Isso sem contar os amigos que moram fora do País. Ainda que eles tenham me passado seus telefones, sem poder usar o Skype, não dá nem para pensar em ligar. A coisa estava começando a ficar mais complicada do que parecia de início.
(a matéria continua)
(http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG85745-7943-210,00-VIDA+UNPLUGGED.html)
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Comentário:

Você já imaginou o que aconteceria se, por uma causa qualquer, os instrumentos de comunicação tecnológica parassem? O que você faria sem celular, sem internet, sem cartão bancário eletrônico e sem cartão de crédito? Quantos jovens usam ou já usaram um orelhão? Quem de nós se permite perder um certo tempo, debruçado numa mesa, escrevendo, com uma caneta, uma carta para um amigo? Isto é ruim? O mundo está dependente da tecnologia?


"792. Por que a civilização não realiza imediatamente todo o bem que ela poderia produzir?
- Porque os homens ainda não se encontram em condições, nem dispostos a obter esse bem.


792-a. Não seria ainda porque, criando necessidades novas, ela excita novas paixões?
- Sim, e porque todas as faculdades do Espírito não progridem ao mesmo tempo; é necessário tempo para tudo. Não podeis esperar frutos perfeitos de uma civilização incompleta." Livro dos Espíritos, Allan Kardec.


O progresso intelectual e moral ocorrem lentamente. E a medida que isto ocorre, as pessoas vão criando novas necessidades, novas utilidades. O exemplo mais clássico é o telefone, no início era sem números e a telefonista transferia a ligação. Eu conheci este sistema na fazenda de meu avô no interior de São Paulo, achava divertido, era uma caixa de madeira, com uma manivela lateral, um boca em forma de cálice e outro para colocar no ouvido, nós virávamos a manivela e em alguns segundos ouvíamos uma voz feminina: -Telefonista, boa noite! Depois o telefone adquiriu números, dispensando parcialmente aquela simpática voz, primeiro era discado e depois transformou-se em tons. Houve nesta época uma febre por telefones improváveis, era o Garfield, carro, moto, violão, cachorro tinha de tudo, e ainda tem. O telefone ficou pequeno, de repente não precisava de fio e nós podíamos andar pela casa, nos achávamos livres. Então puseram o telefone no carro e daí pro celular foi um pulo. 'Tijolão' era o primeiro, agora cabem na palma da mão, tiram fotos, enviam texto, gravam vídeo, acessam a internet, e transmitem os canais de TV.


Porque dei este exemplo, porque hoje em dia o celular não é mais necessário para apenas se comunicar, ele é necessário para se estar conectado e disponível por 24 horas. Outro dia, num programa, conheci o último lançamento da Google, um programa de localizador via gps, para celular. Você quer saber onde está o seu amigo, filho, namorado, o Google fala. Não exatamente, mas uma área em torno.


"799. De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso?
– Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse. A vida futura, não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como
irmãos.


800. Não é de temer que o Espiritismo não consiga vencer a indiferença dos homens e o seu apego às coisas materiais?
– Seria conhecer bem pouco os homens, pensar que uma causa qualquer pudesse transformá-los como por encanto. As idéias se modificam pouco a pouco, com os indivíduos, e são necessárias gerações para que se apaguem completamente os traços dos velhos hábitos. A transformação, portanto, não pode operar-se a não ser com o tempo, gradualmente, pouco a pouco. Em cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo vem rasgá-la de uma vez, mas mesmo que só tivesse o efeito de corrigir um homem de um só dos seus defeitos, isso seria um passo que ele o faria dar, e por isso mesmo um grande bem, porque esse primeiro passo lhe tornaria os outros mais fáceis." Do livro supra citado.


O progresso tecnológico avança 'furiosamente', mas ele não é ruim, ao contrário, nos facilita a vida, amplia nossos horizontes e nossos conhecimentos, o problema é como lidamos com ele, porque quando desencarnarmos todos os nosso brinquedinhos tecnológicos ficarão e enquanto estivermos na erraticidade, nada usaremos. Ainda corremos o risco de reencarnar daqui a muito tempo, e estes brinquedos que tanto gostamos, serão peças de museu.


Mas podemos aprender muito com isto também. Agora dificilmente você não encontra alguém, pelo microcomputador você pode ver se ele está conectado, pode enviar mensagens para o celular e até localizá-lo pelo gps. Para muita gente isto ainda é uma invasão de privacidade, um conhecimento desnecessário. Pessoas se incomodam muito com isto. Mas não é assim na vida espiritual? Aliás é pior, pois basta um pensamento e já estamos em contato com a pessoa desejada. É bom então nos acostumarmos com isto, e refletir, porque estar sempre conectados entre si pode nos incomodar.

(Claudia Cardamone é psicóloga e espírita. É membro da Equipe Espiritismo.net, atuando nas áreas de atendimento fraterno e notícias)

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