domingo, 8 de fevereiro de 2009

Experiência pessoal: Trabalhando com moradores de rua

Trabalhando com moradores de rua

Já faz uma época boa, melhor nem dizer o quanto, que tive a experiência de vivenciar, de forma voluntária, o trabalho realizado com os moradores de rua.
Morava em São Paulo, fazia pós-graduação, trabalhava e, ainda não era espírita, por isso ante algumas dificuldades sentimentais, estava meio perdida na vida. E, como sempre, nesses momentos, há uma alma caridosa, esta pegou-me pela mão e levou-me a uma Casa Espírita perto do local onde morava.
Lá, após Atendimento Fraterno, passei a realizar o tratamento de fluidoterapia, com a audição da Reunião Pública e a tomada de passe.
Acabado o tempo, continuei a frequentar as Reuniões Públicas, porque me faziam bem. Ia, claro, na qualidade de descompromissada, até o dia em que o recepcionista faltou ao trabalho e, como eu estava sempre por ali, me pediram para fazer a recepção da casa, era algo super simples: dar boa noite aos chegantes, entregar um folheto com uma mensagem de teor edificante e anotar na cadernetinha de tratamento, a sua realização naquela data.
No papo vai, papo vem... Falaram do trabalho que era realizado pela Casa, tratava-se de, toda sexta-feira, a partir das 20h, um grupo que saia em caravana distribuindo um sopão, cobertores, assistência aos moradores de rua da região dos Campos Elíseos e Santa Cecília.
Claro, fui conhecer para saber qual era.
Lá chegando, tinha que estar às 19h, tinha uma turma de Senhoras alegres, simpáticas e carinhosas, que já tinham terminado com o preparo da sopa, que haviam começado às 16h30, e aguardavam a turma jovem para auxiliar a colocá-la nos potinhos de margarina, separar em várias caixas, buscar o pão fornecido pela padaria do outro quarteirão e separá-lo também nas várias caixas, pois iriam para diversos carros. Os jovens alegres, conversadores, papeadores, fazendo a tarefa e alguns adultos intermediários entre a juventude e a meia-idade, e que eram os responsáveis pela moçada durante a caravana.
Um ambiente simpático e acolhedor, que convidava mesmo, a quem ali chegasse, a ficar e aderir ao trabalho. Além, claro, de uma sopa, que nunca mais irei tomar uma igual, por mais que seja feita com amor e carinho, aquela sopa tinha um gostinho diferente, um gostinho a mais.
Entrei no clima e no auxílio e às 20h, lá partia a caravana... Primeira parada...segunda..., terceira..., quarta... E, às 24h, término das paradas e retorno à Casa Espírita, onde a turma se reunia para a avaliação e prece.
E eu percebi quantas histórias de vida, quantas vivências de tristezas, lamentações, choramingos, esperanças, orgulho, vaidade, soberba, de tudo um pouco; quantas carências, maiores do que as econômicas, quantos sonhos desfeitos pelas variadas formas de egoismo, orgulho, vícios, defeitos, quantas esperanças acabadas; mas também quanto aprendizado, quanto calor humano, quanto exemplo de resignação e de luta pela sobrevivência...!
Dentro disso tudo, marcou-me muito, até hoje lembro de forma clara e nítida, o senhorzinho Pernambuco, que sempre nos saudava: "Boa, Molecada! O dia hoje está (frio, calor, mais ou menos...) e está bravo aguentar as ruas sozinho. Que bom que chegaram. Qual a mensagem de hoje?"
E, de cada mensagem, surgia uma história de vida, uma história para pensarmos, uma história que nos fazia ver, ao final da noite, em nossas avaliações, que, na realidade, quem tinha confortado, quem tinha auxiliado, a um ou a outro, era o Senhorzinho Pernambuco, que, entre uma colher e outra do sopão e do pedaço de pão, nos passava grandes lições de vida, que, até hoje, vez por outra, em alguma situação, a lembrança do Senhorzinho Pernambuco vem à mente, não das histórias, que se esvairam pelo tempo, mas dele mesmo, que com sua própria lembrança, até hoje, muitas vezes é fonte de 'Olhe pra cima!', 'Ame!', 'Mantenha a esperança!"e tantas outras positivas e sábias para que a jornada encarnatória seja um cadinho produtiva de verdade.
Só pra constar, o Senhorzinho Pernambuco, após seis meses de convívio semanal, desencarnou; nunca soubemos qual era seu nome, mas ele, com seus ensinamentos, continuou a permear o trabalho que realizávamos. E, para mim, continua até hoje.
Foi um trabalho de entrada efetiva e real na busca de maiores conhecimentos da Doutrina Espírita e que me auxiliou a fazer algumas importantes transformações em mim mesma. Embora, atualmente, não realize mais trabalho nesse setor, porque vamos crescendo, buscando novos horizontes; é um trabalho que permanecerá sempre comigo na lembrança e principalmente no coração e, até hoje, muitas vezes, diante de dificuldades, é esse o trabalho, com suas lembranças, vivências e aprendizados, que me auxilia e me impulsiona a ir adiante.
E, por isso, digo: vale a pena nos engajarmos em um desses projetos sociais. Só temos a ganhar em amadurecimento de sentimentos e emoções.

(Lu Francis é membro das Equipes CVDEE e Espiritismo.Net)

2 comentários:

  1. Que incrível terem postado um texto sobre o trabalho com moradores de rua!
    Nesse mesmo sábado iniciei num grupo espírita, muito pequeno(formado por 5 pessoas) mas que juntos fazem em uma grande panela +- 30 refeições, utilizam-se de caixas de leites lavadas e limpas, junto a uma colher de plástico onde os moradores já nos esperam, sempre no mesmo local, com os olhos atentos para conseguirem a "janta", e a Providência Divina numca fez faltar a seus filhos o alimento necessário para o organismo.
    Certa noite havia terminado as 30 porções de comida, e no local estavam em média 60 moradores.No momento exato em que não tinha mais nada no carrinho, o pessoal da sopa encostou o carro e terminou a tarefa singela de alimentar quem tem fome!!!
    Então é isso, fiquei comprometido com um humilde ideal de fazer o que posso não porque necessitam os moradores de rua(são filhos de DEUS, sempre tiveram o que necessitavam), mas estou em mim mesmo construindo um ideal que através do aliemnto despertamos mentes e corações de quantos que procuram a gente, singelos servos da abnegação!
    Um grande abraços para todos!
    Que a paz do Cristo esteja conosco, hoje e sempre!
    Muita paz!
    do amigo de sempre Rudá!

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  2. Oi, Rudá!Que bom receber seu comentário, comentando conosco um trabalho parecido com o relato colocado!
    Este trabalho é algo super legal. E esperamos que ele te traga muitas alegrias, experiências, aprendizado e a concretização desse despertar mentes e corações que nos procuram.
    Continue firme no seu propósito! E vá nos deixando a par dos acontecimentos, tá legal?! :)
    beijão

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