domingo, 15 de fevereiro de 2009

Mediunidade na Infância e na Juventude


A mediunidade na infância e na juventude é um assunto que intriga e impressiona, sempre provocando a descrição de vários relatos, por vezes, permeados de mistério e muitas idéias equivocadas.


Em primeiro lugar é necessário definir o que é mediunidade.


A mediunidade é a faculdade que todo o Espírito encarnado tem de comunicar-se com os Espíritos; todos nós somos médiuns em algum grau; a maioria, apenas intuitiva. Os que vêm, ouvem ou falam com Espíritos são os ostensivos - convencionou-se chamar a estes de médiuns. Essa faculdade nos é outorgada em virtude de programação feita ainda na espiritualidade, antes de reencarnar, portanto não é nenhum privilégio, é apenas uma ferramenta para realizar uma tarefa como qualquer outra, independente da nossa evolução moral. Esse caráter especial que outorgamos à mediunidade deve-se a que ainda estamos presos às ideias do maravilhoso e do misterioso que sempre envolveram os fenômenos mediúnicos; ainda encaramos os fenômenos espirituais como algo antinatural.


Em relação ao período infantil deve-se atentar para o fato de que toda criança, até por volta do início da puberdade, está intimamente ligada ao mundo espiritual, sendo comum que ela apresente evidências de mediunidade como ver familiares desencarnados, ter "amigos imaginários", com os quais ela conversa e se relaciona com naturalidade; mesmo nos casos em que a criança traz em sua programação a tarefa mediúnica, as percepções não são tão estruturadas como no adulto, visto que seu psiquismo ainda não completou o desenvolvimento adequado para sustentar as invasões psíquicas possíveis, sendo quase impossível dizer com certeza que ela será uma médium.


No período da infância, os pais devem encarar essas manifestações (a vidência é a mais comum) com a mesma naturalidade que as crianças, respondendo suas perguntas de maneira simples, sem censurar ou dizer que "é bobagem" ou mentira, porque a criança realmente está vivenciando o que diz; por outro lado, também se deve conversar e educar os filhos sem lhes impor comportamentos formais e padronizados típicos dos adultos como levar a criança para mesas ou escolas mediúnicas, por exemplo; a imaturidade física e psicológica na criança é um obstáculo ao desenvolvimento equilibrado da mediunidade e é um risco que se corre em face dos desequilíbrios psíquicos que podem advir.


No Livro dos Médiuns, item 221, Allan Kardec, nos orienta: "Há inconveniente em desenvolver-se a mediunidade nas crianças. É muito perigoso, pois que esses organismos débeis e delicados sofreriam por essa forma grandes abalos, e as respectivas imaginações excessiva sobre-excitação. Assim, os pais prudentes devem afastá-las dessas idéias, ou, quando nada, não lhes falar do assunto, senão do ponto de vista das conseqüências morais".


Ainda é Kardec (item 222 da mesma obra) quem nos elucida: "Ora, não se podendo esperar de uma criança a gravidade necessária a semelhante ato, muito de temer é que ela faça disso um brinquedo, se ficar entregue a si mesma. Ainda nas condições mais favoráveis, é de desejar que uma criança dotada de faculdade mediúnica não a exercite, senão sob a vigilância de pessoas experientes, que lhe ensinem, pelo exemplo, o respeito devido às almas dos que viveram no mundo. Por aí se vê que a questão de idade está subordinada às circunstâncias, assim de temperamento, como de caráter. Todavia, o que ressalta com clareza [...] é que não se deve forçar o desenvolvimento dessas faculdades nas crianças, quando não é espontânea".


Em entrevista ao site "Terra Espiritual": Amilcar Del Chiaro Filho salienta que: "Os pais devem encarar o fato com naturalidade. Logicamente a criança não tem condições de exercer a mediunidade em plenitude, por isso é preciso controlar a faculdade mediúnica com passes e ambiente sadio no lar. É preciso que se trate com a máxima naturalidade a mediunidade para que a criança perceba que não é nada de excepcional. Mas é preciso, também, tomar cuidado para não se bajular a criança por causa da mediunidade, para que ela não a utilize como instrumento de opressão sobre os pais e familiares".


A melhor atitude, portanto, é deixar o tempo passar com naturalidade, cuidado e atenção para que tudo se acomode.


Com o avançar da idade, a criança vai se firmando cada vez mais no mundo físico e essas "visões" desaparecerão gradativamente, na maioria dos casos, já na adolescência. Porém em algumas crianças a faculdade de se comunicar com Espíritos permanece e segue pela adolescência e pela juventude. Nesses casos, como devem os pais proceder? Como orientar esses jovens?


É certo que há diferença entre o jovem e o adulto, ou seja, os mais novos estão em processo de amadurecimento, o que não significa afirmar que estão despreparados ou imaturos para seus compromissos doutrinários. Entretanto os familiares, principalmente os pais, devem orientar esse jovem a aproximar-se da evangelização, mostrando que somente o estudo e o conhecimento dos mecanismos da faculdade podem dar ao indivíduo a segurança de governar sua mediunidade colocando-a no trabalho do bem ou não - o jovem é livre para querer assumir ou não o trabalho mediúnico (livre-arbítrio), entretanto, somente o conhecimento (o estudo) poderá lhe dar segurança para a escolha.


Se a educação espiritual se iniciou ainda na infância, o jovem estará apto a exercer sua mediunidade, embora ainda necessite de orientação e muito estudo, mas meio caminho já estará cumprido. É prudente, porém, antes de os jovens se dedicarem ao exercício da mediunidade, visando o auxílio e consolo, que eles sejam chamados a colaborar na evangelização da infância, nos estudos da mocidade, nas obras assistenciais da casa, nas campanhas fraternas e outras atividades rotineiras, para que possam valorizar todas as tarefas e perceber a importância do trabalho persistente antes de assumirem o compromisso no intercâmbio direto com os Espíritos.


Por fim, nem é necessário dizer da necessidade dos pais também se educarem (evangelizarem-se) para dar suporte aos filhos nesses momentos de dúvida e, muitas vezes, de aflição e medo diante do fenômeno mediúnico, pois, como sabemos, uma mediunidade deseducada é porta aberta para a obsessão. Somente pais preparados poderão dar a devida acolhida aos anseios de seus jovens filhos, portanto, ao recomendar ao jovem que busque o Centro Espírita, os pais devem precedê-los, dando o exemplo.

(Eloci Glória de Mello é membro da equipe CVDEE, coordenadora dos estudos de O Livro dos Médiuns)

Referência:
O Livro dos Médiuns, Allan kardec
"Terra Espiritual": http://www.terraespiritual.org/espiritismo/entrevista17.html

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